Vaticano: Papa alerta para «erosão preocupante» que atinge salas de cinema e convida a afirmar «valor cultural e social» desta arte

Leão XIV encontrou-se com atores, diretores, cineastas, realizadores e argumentistas, convidando-os a ser «testemunhas de esperança, de beleza, de verdade»

Foto Vatican Media/EPA/Lusa

Cidade do Vaticano, 15 nov 2025 (Ecclesia) – O Papa Leão XIV alertou hoje, no Vaticano, para a “erosão preocupante” que atinge as salas de cinema, que leva a que sejam retiradas das cidades e dos bairros, convidando instituições a valorizarem esta arte.

“As salas de cinema estão a sofrer por uma erosão preocupante que as está a retirar das cidades e bairros. E não são poucos os que dizem que a arte do cinema e a experiência cinematográfica estão em perigo. Convido as instituições a não se resignarem e a cooperarem para afirmar o valor social e cultural dessa atividade”, afirmou o Papa, seguido de um forte aplauso.

Leão XIV encontrou-se esta manhã com atores, diretores, cineastas, realizadores e argumentistas, numa audiência promovida pelo Dicastério para a Cultura e a Educação, em colaboração com o Dicastério para a Comunicação e os Museus do Vaticano.

Entre os participantes estiveram Cate Blanchett, Spike Lee, Tonya Lewis Lee, e Viggo Mortensen, além do cardeal português, D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação (Santa Sé).

No discurso, o Papa evocou o cinema e o teatro como o “coração pulsante dos territórios” dos territórios, uma vez que “contribuem para a sua humanização”.

Se uma cidade está viva, é também graças aos seus espaços culturais: devemos habitá-los, construir relações, dia após dia”, exortou.

Foto: Vatican Media

Leão XIV salientou que o cinema é “uma arte popular, no sentido mais nobre, que nasce para todos e fala a todos”, acrescentando que uma das contribuições mais valiosas desta arte “é precisamente ajudar o espectador a voltar a si mesmo, a olhar com novos olhos para a complexidade da sua própria experiência, a rever o mundo como se fosse a primeira vez”.

“Conforta-me pensar que o cinema não é apenas movimento de imagens: é colocar a esperança em movimento. Entrar numa sala de cinema é como atravessar um limiar, na escuridão e no silêncio. O olhar volta a ficar atento, o coração deixa-se alcançar, a mente abre-se para o que ainda não tinha imaginado”, destacou.

Numa era em que os ecrãs digitais estão sempre ligados e em que o fluxo de informações é constante, o Papa realça que o “cinema é muito mais do que uma simples tela: é um cruzamento de desejos, memórias e questionamentos”.

“É uma busca sensível onde a luz perfura a escuridão e a palavra encontra o silêncio”, indicou.

Na audiência, o Papa pediu aos profissionais do mundo do cinema que para defenderem a “lentidão quando necessário, o silêncio quando fala, a diferença quando provoca”, assinalando que “a beleza não é apenas evasão, mas acima de tudo invocação”.

Foto: Vatican Media

“O cinema, quando é autêntico, não apenas consola, interpela. Chama pelo nome as perguntas que habitam em nós e, às vezes, até as lágrimas que não sabíamos que precisávamos expressar”, sublinhou.

Num ano em que a Igreja católica celebra o Jubileu 2025, dedicado á esperança, o Papa vê a presença dos atores e diretores do mundo do cinema e o trabalho artístico que desenvolvem como “sinais luminosos”.

“Porque vós, também, como tantos outros que chegam à Roma de todas as partes do mundo, estais em caminho como peregrinos da imaginação, buscadores de sentido, narradores de esperança, mensageiros da humanidade”, disse.

Perante os presentes, Leão XIV ressaltou que o caminho que o caminho que percorrem “não se mede em quilómetros, mas em imagens, palavras, emoções, lembranças compartilhadas e desejos coletivos”.

“É uma peregrinação no mistério da experiência humana que atravessam com um olhar penetrante, capaz de reconhecer a beleza mesmo nas dobras da dor, a esperança nas tragédias da violência e das guerras”, referiu.

No encontro em que apresentou o cinema como um “laboratório de esperança, um lugar onde o homem pode voltar a olhar para si mesmo e para o seu destino”, o Papa convidou os participantes a fazer desta atividade uma “arte do espírito”.

A nossa época precisa de testemunhas de esperança, de beleza, de verdade. Vós, com o vosso trabalho artístico, podeis ser essas testemunhas, recuperar a autenticidade da imagem para salvaguardar e promover a dignidade humana está ao alcance do bom cinema e de quem o faz e o protagoniza”, incentivou.

Foto: Vatican Media

O Papa apelou aos atores e diretores do mundo do cinema para não terem medo de “enfrentar as feridas do mundo”, apontando que a “violência, a pobreza, o exílio, a solidão, as dependências, as guerras esquecidas” pedem para “sere vistas e contadas”.

“O grande cinema não explora a dor, acompanha-a, investiga-a. Foi isto que todos os grandes diretores fizeram. Dar voz aos sentimentos complexos, contraditórios, às vezes obscuros que habitam o coração do ser humano é um ato de amor”, salientou.

Leão XIV defende que a “arte não deve fugir do mistério da fragilidade: deve ouvi-lo, deve saber deter-se diante dele”.

A audiência ficou marcada também pela valorização de todos os que fazem acontecer a realização de um filme, desde assistentes, aderecistas, eletricistas, técnicos de som, maquilhadores, cabeleireiros, figurinistas, location manager, diretores de elenco, diretores de fotografia e de música, roteiristas, editores, técnicos de efeitos especiais, produtores.

“Que o vosso cinema continue sempre a ser um lugar de encontro, um lar para quem procura sentido, uma linguagem de paz. Que nunca perca a capacidade de surpreender, continuando a mostrar-nos, mesmo que seja apenas um fragmento, do mistério de Deus”, desejou o Papa.

LJ

Partilhar:
Scroll to Top