Mensagem de Francisco reforça críticas ao sistema financeiro
Cidade do Vaticano, 13 nov 2021 (Ecclesia) – O Papa alertou para as consequências sociais e económicas da pandemia, pedindo uma nova abordagem na luta contra a pobreza, na sua mensagem para o V Dia Mundial dos Pobres, que a Igreja Católica celebra este domingo.
“A pandemia continua a bater à porta de milhões de pessoas e, mesmo quando não traz consigo o sofrimento e a morte, é portadora de pobreza. Os pobres têm aumentado desmesuradamente e o mesmo, infelizmente, continuará a verificar-se ainda nos próximos meses”, escreve Francisco.
O texto tem como tema ‘Sempre tereis pobres entre vós’, inspirado numa passagem do Evangelho segundo São Marcos (Mc 14, 7).
O Papa aborda a multiplicação de novas formas de pobreza, questionando discursos políticos que fazem dos pobres “responsáveis pela sua condição” e mesmo um “peso intolerável” para o sistema económico.
Um estilo de vida individualista é cúmplice na geração da pobreza e, muitas vezes, descarrega sobre os pobres toda a responsabilidade da sua condição. Mas a pobreza não é fruto do destino; é consequência do egoísmo”.
Francisco aponta o dedo a agentes económicos e financeiros “sem escrúpulos”, sem “sentido humanitário e responsabilidade social”.
“Um mercado que ignora ou discrimina os princípios éticos cria condições desumanas que se abatem sobre pessoas que já vivem em condições precárias”, acrescenta.
A situação global, indica, foi agravada pela crise da Covid-19, que exige, segundo o Papa respostas concretas para o desemprego, com mais solidariedade social e promoção humana.
A mensagem deixa alertas para o interior da Igreja Católica, destacando que os pobres não são pessoas “externas” à comunidade, mas “irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social”.
“Aliás sabe-se que um gesto de beneficência pressupõe um benfeitor e um beneficiado, enquanto a partilha gera fraternidade. A esmola é ocasional, ao passo que a partilha é duradoura. A primeira corre o risco de gratificar quem a dá e humilhar quem a recebe, enquanto a segunda reforça a solidariedade e cria as premissas necessárias para se alcançar a justiça”, aponta.
Não se trata de serenar a nossa consciência dando qualquer esmola, mas antes de contrariar a cultura da indiferença e da injustiça com que se olha os pobres”.
A mensagem questiona o tipo de resposta que tem sido dada a milhões de pobres, muitas vezes deixados na “indiferença, quando não a aversão”, defendendo um maior protagonismo dos que são desfavorecidos na criação de novas políticas de solidariedade e a partilha.
“Impõe-se uma abordagem diferente da pobreza. É um desafio que os governos e as instituições mundiais precisam de perfilhar, com um modelo social clarividente, capaz de enfrentar as novas formas de pobreza que invadem o mundo e marcarão de maneira decisiva as próximas décadas”, sustenta o pontífice.
Francisco insiste na ideia de evitar a culpabilização das pobres pela sua condição, considerando que este discurso coloca em causa “o próprio conceito de democracia”.
“Servir eficazmente os pobres incita à ação e permite encontrar as formas mais adequadas para levantar e promover esta parte da humanidade, demasiadas vezes anónima e sem voz, mas que em si mesma traz impresso o rosto do Salvador que pede ajuda”, refere.
A mensagem do Papa foi assinada, simbolicamente, a 13 de junho, dia da festa litúrgica de Santo António.
O texto conclui-se com votos de que este Dia Mundial dos Pobres se afirme cada vez mais na Igreja Católica, levando a “um movimento de evangelização”.
“Não podemos ficar à espera que batam à nossa porta”, assinala Francisco.
OC
No texto, o Papa evoca a figura do padre Damião de Veuster, “Santo apóstolo dos leprosos”, que com eles viveu e morreu na ilha de Molokai.
“O seu testemunho é muito atual nestes nossos dias, marcados pela pandemia de coronavírus: com certeza a graça de Deus está em ação no coração de muitas pessoas que, sem dar nas vistas, se gastam concretamente partilhando o destino dos mais pobres”, refere. |