Francisco presidiu a consistório para a criação de 20 cardeais, de quatro continentes
Cidade do Vaticano, 27 ago 2022 (Ecclesia) – O Papa Francisco presidiu hoje no Vaticano ao oitavo consistório do seu pontificado, desafiando os novos cardeais, oriudos dos quatros continentes, a viver sempre com amor pela Igreja.
“Um cardeal ama a Igreja, sempre com o mesmo fogo espiritual, tanto nas grandes questões como nas pequenas; tanto no encontro com os grandes deste mundo, como com os pequenos, que são grandes diante de Deus”, afirmou na homilia da cerimónia a que presidiu, na Basílica de São Pedro.
O Papa recordou o exemplo do cardeal Agostino Casaroli “famoso pelo seu olhar aberto” para apoiar, com diálogo sábio, os novos horizontes da Europa depois da ‘Guerra Fria’: “E Deus não permita que a miopia humana volte a fechar aqueles horizontes que ele abriu”.
Francisco salientou que o cardeal italiano, secretário de Estado do Vaticano de 1979 até 1990, se dedicou à grande diplomacia mas também ao trabalho pastoral mais pequeno, e visitava “regularmente jovens numa prisão juvenil, em Roma.
“E quantos exemplos desses poderiam ser dados”, acrescentou, lembrando o cardeal vietnamita Francisco Xavier Van Thuan que “foi chamado a pastorear o Povo de Deus noutro cenário crucial do século XX”, esteve na prisão durante 13 anos onde também cuidava “da alma do carcereiro que vigiava a porta da cela”, “animado pelo fogo do amor de Cristo”.
Na primeira celebração do género desde novembro de 2020, a reflexão de Francisco centrou-se numa frase de Jesus no Evangelho de São Lucas (12, 49-50), que “atinge como uma flecha”, lida no início da celebração: “Vim lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12, 49).
“É a chama poderosa do Espírito de Deus, é o próprio Deus como ‘fogo devorador’, amor apaixonado que purifica, regenera e transfigura tudo. Este fogo revela-se plenamente no mistério pascal de Cristo, quando abre o caminho da vida através do mar escuro do pecado e da morte”, desenvolveu.
O Papa destacou outro fogo, “o das brasas” – “suave, escondido, mas dura muito tempo”, do relato da terceira e última aparição de Jesus ressuscitado aos discípulos, no lago da Galileia, no Evangelho de São João.

“E ali, na margem do lago, cria um ambiente familiar onde os discípulos desfrutam, maravilhados e emocionados, a intimidade com o seu Senhor”, explicou.
A partir deste “fogo das brasas”, o Papa referiu ainda o exemplo de São Carlos de Foucauld, e a sua longa permanência num “ambiente não cristão, na solidão do deserto”, centrando tudo na presença de “Jesus vivo, na Palavra e na Eucaristia, e a sua própria presença fraterna, amiga e caridosa”; O “irmão universal” foi morto aos 58 anos (1 dezembro 1916), por um grupo armado no Saara argelino.
Aos novos cardeais, Francisco recordou os irmãos e irmãs que vivem a consagração secular no mundo, “alimentando o fogo baixo e duradouro no local de trabalho, nas relações interpessoais”, os sacerdotes que não se colocam “em evidência, entre o povo da paróquia”, “tantos esposos cristãos”, e “o fogo das brasas que é mantido pelos idosos”, na família e nas esferas social e civil.
“Voltemos o olhar para Jesus: Só Ele conhece o segredo desta humilde magnanimidade, desta força branda, desta universalidade atenta ao detalhe. O segredo do fogo de Deus, que desce do céu, iluminando-o de um extremo ao outro e que cozinha lentamente a comida das famílias pobres, dos migrantes ou dos sem-abrigo; Chama-nos pelo nome, olha-nos nos olhos e pergunta a cada um: Posso contar contigo?”.
No final da homilia, o Papa pediu para rezarem por D. Richard Kuuia Baawobr (Gana), o bispo de Wa que integra a lista de novos cardeais, hospitalizado quando chegou a Roma, esta sexta-feira.
Dos 20 cardeais, 16 têm menos de 80anos, e são eleitores num futuro Conclave; o grupo incluiu o arcebispo de Díli (Timor-Leste), D. Virgílio do Carmo da Silva, de 53 anos, dois arcebispos brasileiros e o arcebispo de Goa e Damão, na Índia.
Francisco leu a fórmula de criação e proclamou em latim os nomes dos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito” à sua missão; seguiu-se a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao Papa e seus sucessores.
Cada um dos novos cardeais ajoelhou-se para receber o barrete cardinalício, de acordo com a ordem de criação.
O Papa entregou um anel aos cardeais para que se “reforce o amor pela Igreja”, seguindo-se a atribuição a cada cardeal uma igreja de Roma – que simboliza a participação na solicitude pastoral do Papa na cidade -, bem como a bula de criação cardinalícia.
Este foi o oitavo consistório do atual pontificado, após os realizados a 22 de fevereiro de 2014, 14 de fevereiro de 2015, 19 de novembro de 2016, 28 de junho de 2017, 28 de junho de 2018, 5 de outubro de 2019 e 28 de novembro de 2020.

O Consistório Ordinário Público 2022 começou com a saudação ao Papa por D. Arthur Roche, prefeito do Dicastério para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (Santa Sé), o primeiro dos novos cardeais.
Após o rito de criação dos novos cardeais, seguiu-se o consistório público para o voto de canonização do Beato João Batista Scalabrini, bispo de Piacenza, fundador da Congregação dos Missionários de São Carlos (Scalabrinianos) e da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo, e de Artêmides Zatti, leigo professo dos Salesianos.
O Papa expressou a avaliação dos votos e anunciou que os dois beatos vão ser canonizados no dia 9 de outubro.
Na segunda e terça-feira, os cardeais participam numa reunião convocada por Francisco, para refletir sobre a nova constituição apostólica para a Cúria Romana, os serviços centrais de governo da Igreja Católica, a ‘Praedicate evangelium’ (Pregai o Evangelho), que termina, com a Missa, a partir das às 17h30 (menos uma hora em Lisboa), na Basílica de São Pedro.
CB/OC