«Os princípios do respeito pela dignidade de todos, pela conduta correta e por uma vida sã devem tornar-se uma regra universal», referiu Francisco, em audiência à Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores
Cidade do Vaticano, 05 mai 2023 (Ecclesia) – O Papa afirmou hoje que o abuso sexual de menores por membros do clero e a “má administração pelos líderes da Igreja” tem sido um dos “maiores desafios para a Igreja”, falando à Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores (CPPM).
“A guerra, a fome e a indiferença perante o sofrimento dos outros são problemas terríveis no nosso mundo, e clamam ao céu. Mas a crise dos abusos sexuais é particularmente grave para a Igreja, porque mina a sua capacidade de abraçar plenamente e dar testemunho da presença libertadora de Deus”, referiu Francisco, no Vaticano, num discurso enviado à Agência ECCLESIA pela Santa de Imprensa da Santa Sé.
O Papa salientou que “a incapacidade, sobretudo por parte dos responsáveis da Igreja”, de fazer o que deveriam ter feito, “foi motivo de escândalo para muitos”, acrescentando que, nos últimos anos, “a consciência deste problema” se estendeu a toda a comunidade cristã.
A intervenção destacou, no entanto, que as lideranças católicas não permaneceram “silenciosos ou inativos”, lembrando o Motu Proprio ‘Vos estis lux mundi’, de 2019, recentemente atualizado.
“O abuso sexual de menores pelo clero e a sua má administração pelos líderes eclesiásticos foram um dos maiores desafios para a Igreja do nosso tempo”, advertiu Francisco.
O Papa observou que a experiência adquirida permite que as Conferências Episcopais e os bispos, individualmente, “introduzam melhorias”.
“Ninguém pode afirmar honestamente que não é afetado pela realidade dos abusos sexuais na Igreja”, prosseguiu.
Perante a renovada CPPM, Francisco partilhou também “sugestões” e pediu que os membros do organismo tenham presente três princípios, parte de uma “espiritualidade de reparação”.
Em primeiro lugar, nos casos em que foram causados danos à vida das pessoas, somos chamados a ter presente o poder criativo de Deus para fazer emergir a esperança do desespero e a vida da morte. A terrível sensação de perda que muitos experimentam em resultado de abusos pode, por vezes, parecer um fardo demasiado pesado para ser suportado”.
No segundo ponto, o Papa afirmou que o abuso sexual “abriu muitas feridas no mundo, e não apenas na Igreja”, lembrando que muitas vítimas “continuam a sofrer os efeitos de abusos” que aconteceram há anos, com consequências que se fazem sentir “nas relações entre cônjuges, pais e filhos, irmãos e irmãs, amigos e colegas”.
As comunidades ficam traumatizadas; a natureza insidiosa do abuso cria devastação e divisão no coração das pessoas e nas suas relações; Onde a vida está vida está partida, peço-vos que ajudeis a juntar as peças, na esperança de que o que está partido possa ser reparado”.
O Papa partilhou que, recentemente, esteve com “um grupo de sobreviventes de abusos”, todos idosos, e alguns manifestaram o “desejo de viver os anos que lhes restam em paz”, o que “significava retomar a relação com a Igreja que os tinha magoado”.
Francisco, em terceiro lugar, encorajou a CPPM a cultivar uma abordagem que “espelhe o respeito e a bondade do próprio Deus”, afirmando que chegou o momento de “reparar os danos causados às gerações precedentes e àqueles que continuam a sofrer”.
Os princípios do respeito pela dignidade de todos, pela conduta correta e por uma vida sã devem tornar-se uma regra universal, independentemente da cultura ou da condição económica e social das pessoas”.
Francisco assinalou que os esforços para “melhorar as diretrizes e as normas de conduta” do clero e dos religiosos “devem continuar”, pedindo à CPPM que apresente um relatório anual, sobre o que “consideram estar a funcionar bem ou não, para que possam ser feitas as alterações adequadas”.
O Papa começou o seu discurso a destacar que “estão a dar frutos” as sementes lançadas há cerca de dez anos, quando o Conselho de Cardeais recomendou a criação deste organismo, para enfrentar os desafios de hoje com “sabedoria e coragem, é importante parar por um momento e refletir sobre o passado”.
A Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores, presidida pelo cardeal Seán O’Malley, está reunida na sua segunda assembleia plenária, até este sábado, no Vaticano.
CB/OC