Francisco quer Igreja «mãe», em saída ao encontro do mundo
Cidade do Vaticano, 14 set 2015 (Ecclesia) – O Papa Francisco admitiu em entrevista à Renascença que tem “necessidade” de sair e estar com as pessoas, defendendo que a Igreja tem de viver “em saída”.
“Sim, eu tenho necessidade de sair, mas ainda não chegou a altura certa”, refere, em declarações divulgadas hoje pela emissora católica portuguesa.
“Pouco a pouco, vou tendo contacto com as pessoas às quartas-feiras e isso ajuda-me muito. A única coisa que estranho em relação a Buenos Aires é sair a ‘callejear’, andar na rua”, confessou.
O Papa comenta as recentes alterações promovidas ao processo canónico para as causas de declaração de nulidade de matrimónios católicos, considerando que é importante que “a Igreja seja mãe”.
“Agora, com este Jubileu da Misericórdia, espero que muita gente sinta a Igreja como mãe. Porque pode acontecer à Igreja o mesmo que aconteceu à Europa, não é? Ficar demasiadamente avó, em vez de mãe, incapaz de gerar vida”, explicou.
A intenção, precisa, é “simplificar, facilitar a fé às pessoas” e, do ponto de vista jurídico, “agilizar os processos nas mãos do bispo”.
“Um juiz, um defensor do vínculo, só uma sentença, porque até agora havia duas sentenças. Não, agora, é só uma. Se não houver apelo, já está. Se houver apelo, vai para o metropolita, mas agilizar. E também a gratuidade dos processos”, explica.
Segundo o Papa, uma Igreja que não está em saída, “uma Igreja que não sai, mantém Jesus preso, aprisionado”.
“Se uma igreja, uma paróquia, uma diocese, um instituto, vive fechado em si mesmo, adoece e ficamos com uma Igreja raquítica, com normas rígidas, sem criatividade, segura, mais que segura, assegurada por uma companhia de seguros, mas não segura”, alertou.
Francisco volta a defender que “entre uma igreja doente e uma Igreja acidentada” prefere a acidentada “porque, pelo menos, saiu para a rua”.
O Papa projeta a próxima assembleia do Sínodo dos Bispos (outubro), do qual se esperam “muitas coisas, porque, evidentemente, a família está em crise”, face à atual “cultura do provisório”.
A este respeito, abordou em particular a situação das famílias que vivem uma segunda união, recordando também o ensinamento do seu predecessor, Bento XVI: “Não estão excomungadas e têm de ser integradas na vida da Igreja. Isso ficou claríssimo”.
Francisco comenta a sua ‘popularidade’, afirmando que vive a sua missão “em paz” e que “Jesus, num certo momento, foi muito popular e, depois, acabou como acabou”.
“O Senhor cuidará de mim como cuidou de Pedro, mas Pedro morreu crucificado, enquanto eu não sei como vou terminar. Que Ele decida, desde que me dê a paz, que Ele faça o que quiser”, afirma.
A entrevista contou com alguns apontamentos mais pessoais do Papa, o qual revelou que dorme "como uma pedra" e se confessa “todos os quinze dias, vinte dias” a um padre franciscano, o padre Blanco.
“Nunca tive de chamar uma ambulância para o levar de regresso, assustado com os meus pecados”, gracejou.
OC