Leão XIV fala dos primeiros meses de pontificado, em entrevista a portal de informação norte-americano
Cidade do Vaticano, 14 set 2025 (Ecclesia) – O Papa assumiu as dificuldades que o Vaticano tem encontrado na mediação do conflito na Ucrânia, desde a invasão russa de 2022, pedindo maior pressão da comunidade internacional.
“Estou muito ciente das implicações de pensar no Vaticano como mediador – mesmo nas poucas vezes em que nos oferecemos para acolher reuniões de negociação entre a Ucrânia e a Rússia, seja no Vaticano ou noutra propriedade da Igreja”, disse em entrevista ao ‘Crux’, portal de informação religiosa dos EUA, publicada este domingo por ocasião do 70.º aniversário natalício do pontífice.
Leão XIV assinalou que, desde o início da guerra, a Santa Sé “tem feito grandes esforços para manter uma posição” que seja “verdadeiramente neutra”.
“Acho que vários atores diferentes têm de pressionar bastante para que as partes em guerra digam: já chega, vamos procurar outra maneira de resolver nossas diferenças”, apelou.
A entrevista à jornalista norte-americana Elise Ann Allen faz parte de uma biografia publicada pela editora ‘Penguin’ no Peru, país onde Leão XIV foi missionário, enquanto religioso agostiniano, e depois bispo, por nomeação de Francisco.
O Papa, eleito a 8 de maio, faz “uma distinção em termos da voz da Santa Sé na defesa da paz e do papel de mediador”, considerando que este “não é tão realista quanto o primeiro”.
Acho que as pessoas ouviram os diferentes apelos que fiz em termos de levantar a minha voz, a voz dos cristãos e das pessoas de boa vontade, dizendo que a paz é a única resposta. Pensando nas mortes inúteis após todos estes anos de pessoas de ambos os lados – nesse conflito específico, mas também noutros conflitos – acho que as pessoas têm de acordar para dizer que há outra maneira de fazer isto.”
Leão XIV diz manter a “esperança” na natureza humana.
“Em qualquer lado de qualquer posição, é possível encontrar motivações que são boas e motivações que não são tão boas. E, no entanto, continuar a encorajar as pessoas a olhar para os valores mais elevados, os valores reais, faz a diferença. É possível ter esperança e continuar a tentar pressionar e dizer às pessoas: vamos fazer isto de uma maneira diferente”, afirmou.
O Papa defende o diálogo para “construir pontes”, afirmando que no início do pontificado teve como prioridade ir ao encontro de “líderes mundiais de organizações multinacionais”.
“As Nações Unidas, pelo menos neste momento, perderam a sua capacidade de reunir as pessoas em questões multilaterais”, lamentou.
Na conversa, Leão XIV assume a preocupação com a “polarização” crescente, que liga à “perda de um sentido mais elevado do que é a vida humana”.
“Acrescem a isso alguns outros fatores, um dos quais considero muito significativo: a diferença cada vez maior entre os níveis de rendimento da classe trabalhadora e o dinheiro que os mais ricos recebem”, indicou o pontífice.
Questionado sobre a sua experiência no Peru, durante várias décadas, o Papa assume-se como “muito norte-americano”, seu país natal.
“Também amo muito o Peru, o povo peruano, que faz parte de quem eu sou. Metade da minha vida ministerial foi passada no Peru, por isso a perspetiva latino-americana é muito valiosa para mim”, acrescentou.
Leão XIV destacou a ligação a Francisco, na “compreensão de parte da visão que tinha para a Igreja”.
Pouco mais de quatro meses após a sua eleição, o Papa diz que “ainda tem muito a aprender”.
“O aspeto totalmente novo deste trabalho é ser lançado ao nível de líder mundial. É muito público, as pessoas sabem das conversas telefónicas ou reuniões que tive com chefes de Estado de vários governos, países ao redor do mundo, numa época em que a voz da Igreja tem um papel significativo a desempenhar”, referiu.
Trechos da entrevista foram divulgados antecipadamente pelo ‘Crux’ e pelo jornal peruano ‘El Comercio’.
A conversa – gravada em Castel Gandolfo e na residência do Papa no Palácio do Santo Ofício, do Vaticano – vai integrar o livro biográfico ‘Leão XIV: cidadão do mundo, missionário do século XXI’, com publicação agendada para 18 de setembro, em espanhol, pela editora ‘Penguin Peru’.
OC
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