Sacerdote português vai orientar retiro de Quaresma de Francisco e seus colaboradores mais diretos
Lisboa, 16 fev 2018 (Ecclesia) – O padre e poeta português José Tolentino Mendonça vai levar ao Papa uma reflexão sobre a “espiritualidade do quotidiano”, durante o retiro de Quaresma que orienta a partir de domingo, para Francisco e seus colaboradores mais diretos
“Quando o Santo Padre quis falar comigo para que colaborasse nos Exercícios da Quaresma, disse-lhe que eu sou apenas um pobre padre, e é a verdade. Ele encorajou-me a partilhar da minha pobreza. Veio então à minha mente propor um ciclo de meditações muito simples sobre a sede, intitulado ‘Elogio da sede’”, relata o sacerdote, na sua mais recente crónica semanal para o jornal católico italiano ‘Avvenire’.
O tradicional retiro de Quaresma do Papa e da Cúria Romana decorre de 18 a 23 de fevereiro na Casa do Divino Mestre, dos religiosos paulistas, em Ariccia, arredores de Roma, com 10 meditações do padre e poeta madeirense.
“A sede torna-se uma interpretação necessária não só para chegar ao coração humano, mas também para compreender o mistério de Deus”, adianta o padre Tolentino Mendonça.
O vice-reitor da Universidade Católica de Lisboa e consultor do Conselho Pontifício para a Cultura (Santa Sé) refere na sua crónica que a sede é “um tema bíblico, elaborado muitas vezes pela tradição cristã, e ao mesmo tempo é um mapa real, muito concreto”.
“Interessa-me sobretudo uma espiritualidade do quotidiano”, confessa.
“Aprendizes do espanto” é o título da reflexão do padre Tolentino Mendonça que servirá de introdução a todo ciclo dos exercícios, este domingo.
Nos dias seguintes, o programa começa com a celebração da Missa às 07h30 locais, e a seguir, a primeira meditação às 09h30; a segunda meditação está prevista para as 16h00, antes da oração das vésperas e da adoração eucarística.
Na sexta-feira, último dia de retiro, está prevista uma única meditação.
Os temas escolhidos pelo sacerdote português são: “a ciência da sede”, “percebi que estava sedento”, “esta sede de nada”, “a sede de Jesus”, “as lágrimas contam uma sede”, “beber da própria sede”, “as formas do desejo”, “ouvir a sede das periferias”, e “a bem-aventurança da sede”.
Durante o período de retiro são suspensas todas as audiências, incluindo a audiência geral de quarta-feira.
José Tolentino Mendonça nasceu em Machico (Arquipélago da Madeira) em 1965 e foi ordenado padre em 1990; doutorado em Teologia Bíblica, em Roma.
Biblista, investigador, poeta e ensaísta, Tolentino Mendonça foi condecorado com o grau de Comendador da Ordem de Sant’lago da Espada por Aníbal Cavaco Silva, presidente da República, em 2015.
Aos leitores do ‘Avvenire’, o sacerdote português escreve sobre um trabalho pastoral “no âmbito do pensamento e da cultura”, onde “as perguntas são exigentes e contínuas, as procuras de sentido são intensas, por vezes extremas”.
“Há muita sede no coração humano. O coração, podemos dizer, é um interminável reservatório de sede. Sede de amor. Sede de verdade. Sede de reconhecimento. Sede de razões de viver. Sede de um refúgio. Sede de novas palavras e de novas formas. Sede de justiça. Sede de humanidade autêntica. Sede de infinito”, elenca.
Tolentino Mendonça tinha revelado ao portal de notícias do Vaticano que se inspirou nos questionamentos do “coração humano” para as suas meditações.
“Lembrei-me do coração humano: o que é que há no coração humano que seja, ao mesmo tempo, eterno, um sinal de Deus, e um mapa, um desafio para os tempos que nós vivemos”, refere.
A realização dos exercícios espirituais de Quaresma fora do Vaticano foi implementada pelo Papa Francisco; a viagem para Ariccia é feita em autocarro.
OC