Vaticano: «Os pobres não são um passatempo para a Igreja, mas os irmãos e irmãs mais amados» – Leão XIV

Papa pede eliminação das «causas estruturais» da pobreza, e destaca que trabalho, educação, habitação e saúde são condições para «uma segurança que jamais se alcançará com armas»

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 13 jun 2025 (Ecclesia) – O Papa Leão XIV divulgou hoje a mensagem para o Dia Mundial dos Pobres 2025 onde afirma que “a pobreza tem causas estruturais que devem ser enfrentadas e eliminadas” e os pobres “não são um passatempo para a Igreja”.

“Desejo, portanto, que este Ano Jubilar possa incentivar o desenvolvimento de políticas de combate às antigas e novas formas de pobreza, além de novas iniciativas de apoio e ajuda aos mais pobres entre os pobres. Trabalho, educação, habitação e saúde são condições para uma segurança que jamais se alcançará com armas”, escreve o Papa, na mensagem divulgada hoje pela sala de imprensa da Santa Sé.

Na mensagem para o Dia Mundial dos Pobres 2025, enviada à Agência ECCLESIA, Leão XIV alerta que a pobreza “tem causas estruturais que devem ser enfrentadas e eliminadas”, a à medida que isso acontece, todos são chamados a “criar novos sinais de esperança que testemunhem a caridade cristã, como fizeram, em todas as épocas, muitos santos e santas”.

“Os hospitais e as escolas, por exemplo, são instituições criadas para expressar o acolhimento aos mais fracos e marginalizados. Eles deveriam fazer parte das políticas públicas de todos os países, mas as guerras e as desigualdades frequentemente ainda o impedem”, exemplificou o Papa que foi missionário no Peru.

“Hoje, cada vez mais, as casas-família, as comunidades para menores, os centros de acolhimento e escuta, as refeições para os pobres, os dormitórios e as escolas populares tornam-se sinais de esperança: são tantos sinais, muitas vezes ocultos, aos quais talvez não prestemos atenção, mas que são muito importantes para se desvencilhar da indiferença e provocar o empenho nas diversas formas de voluntariado!”

Leão XIV, na sua primeira mensagem para o Dia Mundial dos Pobres, com o tema ‘Tu és a minha esperança’ (cf. Sl 71,5), do livro bíblico dos Salmos, destaca também que “os pobres não são um passatempo para a Igreja, mas os irmãos e irmãs mais amados”, porque cada um deles, com a sua existência e também com as palavras e a sabedoria, levam “a tocar com as mãos a verdade do Evangelho”.

“O Dia Mundial dos Pobres pretende recordar às nossas comunidades que os pobres estão no centro de toda a ação pastoral. Não só na sua dimensão caritativa, mas igualmente naquilo que a Igreja celebra e anuncia”, acrescenta, sublinhando que através das suas vozes, das suas histórias e dos seus rostos, “Deus assumiu a sua pobreza”.

“ Todas as formas de pobreza, sem excluir nenhuma, são um apelo a viver concretamente o Evangelho e a oferecer sinais eficazes de esperança”, acrescentou.

A Igreja Católica está a celebrar o Ano Santo 2025, o 27.º jubileu ordinário da história, por iniciativa do Papa Francisco, que o dedicou ao tema da esperança, e está a ser continuado com o pontificado de Leão XIV.

Neste sentido, o Papa acrescenta que esse é o convite que emerge da celebração do Jubileu, e explica que “não é por acaso” que o Dia Mundial dos Pobres é celebrado no final deste ano de graça porque quando a Porta Santa for fechada as comunidades devem “conservar e transmitir os dons divinos que foram derramados nas mãos ao longo de um ano inteiro de oração, conversão e testemunho”.

Leão XIV assinala que os pobres “não são objetos da pastoral” da Igreja, mas “sujeitos criativos que estimulam a encontrar sempre novas formas de viver o Evangelho hoje”, com a sucessão de “novas ondas de empobrecimento”, há o risco de habituação e resignação.

“Todos os dias, encontramos pessoas pobres ou empobrecidas e, às vezes, pode acontecer que sejamos nós mesmos a possuir menos, a perder o que antes nos parecia seguro: uma casa, comida suficiente para o dia, acesso a cuidados de saúde, um bom nível de educação e informação, liberdade religiosa e de expressão”, alertou.

“É uma regra da fé e um segredo da esperança: embora importantes, todos os bens desta terra, as realidades materiais, os prazeres do mundo ou o bem-estar económico não são suficientes para fazer o coração feliz. Frequentemente, as riquezas iludem e conduzem a situações dramáticas de pobreza, sendo a primeira dessas ilusões pensar que não precisamos de Deus e conduzir a nossa vida independentemente d’Ele.”

Esta mensagem é assinada, simbolicamente, no dia 13 de junho, festa litúrgica de Santo António, “patrono dos pobres”.

CB

A partir do tema da mensagem para o IX Dia Mundial dos Pobres – ‘Tu és a minha esperança’ (cf. Sl 71,5), o Papa explica que “essas palavras emanam de um coração oprimido por graves dificuldades”, mas o seu espírito “está aberto e confiante, porque firme na fé reconhece o amparo de Deus”.

“No meio das provações da vida, a esperança é animada pela firme e encorajadora certeza do amor de Deus, derramado nos corações pelo Espírito Santo; o pobre pode tornar-se testemunha de uma esperança forte e confiável, precisamente porque professada numa condição de vida precária, feita de privações, fragilidade e marginalização” desenvolve.

Leão XIV explica que o pobre “não conta com as seguranças do poder e do ter”, mas, pelo contrário, sofre-as e, “muitas vezes, é vítima delas”, por isso, a sua esperança “só pode repousar noutro lugar”: “Reconhecendo que Deus é a nossa primeira e única esperança, também nós fazemos a passagem entre as esperanças que passam e a esperança que permanece”.

Segundo o Papa, “a pobreza mais grave é não conhecer a Deus”, e cita o Papa Francisco na exortação ‘Evangelii Gaudium’ (Alegria do Evangelho), quando escreve: «A pior discriminação que sofrem os pobres é a falta de cuidado espiritual. A imensa maioria dos pobres possui uma especial abertura à fé; tem necessidade de Deus e não podemos deixar de lhe oferecer a sua amizade, a sua bênção, a sua Palavra, a celebração dos Sacramentos e a proposta dum caminho de crescimento e amadurecimento na fé» (n. 200).

O Dia Mundial dos Pobres foi instituído na Igreja Católica pelo Papa Francisco, com a carta apostólica ‘Misericórdia e mísera’, que foi publicada no encerramento do Jubileu da Misericórdia (2016), e foi celebrado pela primeira vez, em novembro de 2017.

O Dia Mundial dos Pobres 2025, a nona edição, vai ser celebrado no dia 16 de novembro (domingo).

 

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