Vaticano: «O Senhor abençoa toda a gente», diz o Papa, explicando declaração sobre bênçãos a casais em situação irregular

Entrevista a canal italiano aborda preocupações com escalada da guerra

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 14 jan 2024 (Ecclesia) – O Papa explicou hoje a declaração ‘Fiducia supplicans’, divulgada no último mês de dezembro, relativa a bênçãos para casais em situação irregular, convidando a superar divergências.

“O Senhor abençoa toda a gente, todos os que vêm. O Senhor abençoa todos os que são capazes de ser batizados, ou seja, todas as pessoas. Mas, depois, as pessoas devem entrar em diálogo com a bênção do Senhor e ver qual é o caminho que o Senhor lhes propõe”, indicou, em entrevista por videoligação ao programa ‘Che tempo che fa’, do canal Nove, na Itália.

Francisco admitiu que o documento encontrou “resistência” por parte de alguns responsáveis e comunidades católicas.

“Temos de pegar nas pessoas pela mão e ajudá-las a percorrer esse caminho, não condená-las à partida. E este é o trabalho pastoral da Igreja. Este é um trabalho muito importante para os confessores”, sustentou.

A 4 de janeiro o Dicastério para a Doutrina da Fé (Santa Sé) indicou, em nota de imprensa, que nenhuma conferência episcopal poderia impedir um sacerdote de abençoar “casais em situação irregular”.

A nota abordou várias questões levantadas pela declaração, que prevê a possibilidade de abençoar casais em segunda união ou uniões de pessoas do mesmo sexo.

Francisco convidou todos a uma “discussão fraterna” para superar dificuldades e dúvidas, evitando “conclusões feias”.

“Há um preço de solidão que é preciso pagar, quando tomas uma decisão. Às vezes as decisões não são aceites, mas na maior parte das vezes é porque não se conhece”, apontou.

O Papa sustentou que um confessor deve “perdoar tudo”.

“O que vou dizer não é um dogma de fé, mas uma coisa pessoal minha: gosto de pensar que o inferno está vazio”, referiu.

“Espero que seja a realidade”, acrescentou.

Francisco reforçou a sua preocupação com a forma de celebrar o sacramento da Reconciliação, pedindo que as pessoas sejam tratadas com “bondade”.

“Em 54 anos de sacerdócio, só uma vez neguei o perdão, por causa da hipocrisia da pessoa. Uma vez… sempre perdoei tudo, mesmo sabendo que aquela pessoa talvez tenha uma recaída, mas o Senhor perdoa-nos, ajuda a não cair de novo, a cair menos, mas perdoar sempre”, relatou.

O Papa, que já em 2022 tinha dado uma entrevista ao mesmo programa, admitiu que tem medo da “capacidade de autodestruição” da humanidade atual.

“Muitas vezes as guerras crescem para vender armas ou experimentar novas armas e as pessoas que morrem são, um pouco, o preço que se paga”, lamentou.

Há algumas coisas que me assustam, por exemplo, esta escalada da guerra assusta-me, dando passos bélicos no mundo, perguntamo-nos como é que vamos acabar. Agora com armas atómicas, que destroem tudo, como vamos acabar, como a arca de Noé?”

Foto: Vatican Media

Francisco assumiu que algumas pessoas podem sentir “raiva” e questionar a existência de Deus, perante o mal da humanidade.

“O Senhor está perto. E a verdadeira maneira, mesmo chorando a nossa dor desta forma, é deixar o Senhor aproximar-se”, recomendou.

O Papa recordou um recente encontro com crianças da Ucrânia, referindo que “nenhuma delas sorriu”.

“Tinham-se esquecido de sorrir e o facto de uma criança se esquecer de sorrir é criminoso. É isto que a guerra faz: impede o sonho”, advertiu.

Francisco afirmou que a “ternura das crianças” fá-lo sorrir e convidou ao diálogo entre gerações, unindo netos e avós.

“As crianças são o futuro, mas são o futuro com as coisas que lhes damos. Ou as fazemos crescer bem ou as fazemos crescer mal. Com as crianças não se brinca”, alertou.

A conversa abordou outro dos temas que preocupa o Papa, a “crueldade” nos fluxos migratórios, com pessoas a morrer quando tentam entrar na Europa.

“Uma boa política de migração, bem pensada, também ajuda os países desenvolvidos, como a Itália, a Espanha, etc. Temos de tomar em mãos o problema dos migrantes, acabar com todas estas máfias que exploram os migrantes e começar a resolver o problema”, apelou.

Questionado sobre o seu futuro, o pontífice, de 87 anos, sublinhou que uma eventual renúncia “não é um pensamento, nem uma preocupação, nem sequer um desejo”.

“É uma possibilidade, aberta a todos os Papas, mas, de momento, não está no centro dos meus pensamentos e preocupações, dos meus sentimentos”, precisou.

Francisco projeta uma viagem à Polinésia, em agosto, acrescentando que a sua primeira visita à Argentina após a eleição pontifícia, em 2013, deve acontecer “na segunda metade do ano, porque agora há uma mudança de governo, há coisas novas”.

OC

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Agência ECCLESIA

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