Vaticano: «O Papa Francisco faz cada pessoa sentir-se como a mais importante do mundo» – Vasco Teixeira

Jovem português está em Roma a participar no encontro internacional de jesuítas em formação

Foto: Vatican Media
O jovem português Vasco Teixeira, à esquerda do Papa Francisco

Cidade do Vaticano, 03 ago 2018 (Ecclesia) – O português Vasco Teixeira está em Roma a estudar Filosofia, num percurso integrado na preparação para o sacerdócio dentro da Companhia de Jesus, e teve este ano a oportunidade de participar no encontro internacional de jesuítas em formação.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, o jovem de 25 anos, natural da Maia, na Diocese do Porto, revelou como tem decorrido esta iniciativa, com destaque para o encontro com o Papa Francisco, também ele ligado aos jesuítas, e abordou o seu percurso dentro da congregação.

“Eu fiz o noviciado há dois anos, na Comunidade de Cernache (Coimbra), e depois fui um ano para Braga estudar Filosofia. Depois interrompi e vim para Roma onde vou ficar mais um, o curso é de três anos”, explica Vasco Teixeira.

Antes disso, a ligação com os jesuítas cresceu a partir do contacto com o Centro de Reflexão e Encontro Universitário – Inácio de Loyola (CREU), no Porto.

Depois de concluir o noviciado, tinha dois caminhos para continuar o seu percurso dentro da Companhia de Jesus, ou ser padre ou ser irmão religioso, e escolheu “a via para o sacerdócio”.

E como é que um jovem perspetiva hoje o papel da Igreja Católica, e concretamente dos jesuítas, no meio da sociedade?

Aqui, Vasco Teixeira salienta uma das linhas que têm norteado a reflexão deste encontro internacional de formação, que tem como tema ‘Os jovens, a vocação e a comunicação’.

A importância de “comunicar, de propor Cristo, a salvação, de forma mais explicita, mais veloz, mais do que com grandes catequeses, com a palavra certa na hora certa”.

Indo ao encontro do “ritmo” de uma sociedade também ela cada vez mais do “imediato”, embora também cada vez mais sedenta de “fontes de verdade concretas”.

Ter a noção de que “Cristo não pode ser proposto como algo para o futuro, tem que ser para o presente, para o agora”, e que “a Igreja precisa de dar um salto de qualidade na comunicação, de assumir que as pessoas não estão à espera dela para ouvir”.

Foto: Jesuítas em Portugal
Vasco Teixeira (de costas) quando fez os seus primeiros votos na Companhia de Jesus na Igreja Paroquial de Cernache

“Este novo ritmo em que vivemos não é algo necessariamente negativo, tem alguma coisa para nos ensinar”, sustenta o jovem português.

O encontro internacional de jesuítas em formação, que se vai prolongar até 18 de agosto, acontece todos os anos numa cidade europeia diferente.

“Normalmente vem quem está nesta fase, de formação em Filosofia, e vem só uma vez. Este ano o Padre Provincial pediu-me para vir”, explica Vasco Teixeira, que está presente neste evento com “grande alegria”.

“Somos 24 jesuítas de diversas partes da Europa, e apesar das diferenças há uma grande unidade, uma maneira de ver as coisas, uma postura, muito coesa”, salienta.

Sobre o encontro que os participantes com o Papa, o jovem destaca o passado de Francisco para sublinhar a postura que ele manteve, de “um jesuíta entre os jesuítas”, sempre com grande “proximidade”.

Um episódio que mostra isso mesmo, essa familiaridade, foi o modo como “no dia de Santo Inácio de Loyola, o Papa foi à Cúria Geral almoçar, sem avisar”.

“Ele gosta de manter a ligação àqueles que foram e são seus irmãos”, frisa Vasco Teixeira.

Sobre a sua experiência pessoal, adianta que “foi a primeira vez que esteve tão próximo do Papa”.

Fiquei na cadeira que estava mais próxima, estava entusiasmado, mas foi tudo muito sereno. Já tinha estado algumas vezes em missas aqui em Roma, também em Fátima quando o Papa foi a Fátima, mas nunca me tinha apercebido da maneira de estar dele nestes encontros públicos. O Papa parece um contemplativo, concentra-se muito nos olhares, nas expressões, enquanto está a cumprimentar, demora-se muito a apertar a mão, faz cada pessoa sentir-se como a mais importante do mundo.

Outra particularidade de Francisco, para o jovem formando jesuíta, é o facto de conseguir manter a vitalidade que o carateriza, apesar da idade e dos muitos afazeres.

“Vê-se que está cansado mas mantém o sentido de humor, a abertura para ir fazendo piadas, que também lhe é típico”, acrescenta.

Durante a audiência com o Papa, um assunto que esteve muito em destaque foi o papel da Igreja Católica no apoio aos jovens, muitos deles hoje a passarem por dificuldades, como o desemprego ou a precariedade laboral.

Problemas que levam muitas vezes os mais novos ao desespero, a caírem em situações de consumo de droga, de álcool, ou mesmo ao suicídio.

Fatores que, segundo referiu Francisco, devem desafiar os responsáveis políticos, económicos, mas também a Igreja Católica, a estar ao lado dos jovens, a contrariar uma economia, ou mais uma “finança”, que “não tem a pessoa no centro”, e por isso “mata”.

Foto: Vatican Media

“Nós estivemos cerca de 30, 40 minutos com o Papa. O tema da juventude surgiu por uma pergunta feita por um dos participantes, que lhe abriu espaço para falar sobre como se junta humanismo, economia e espiritualidade. A pergunta foi como é que eu, sendo padre, que vou ter emprego garantido sempre, me posso compadecer e ajudar quem passa por dificuldades”, conta Vasco Teixeira.

Que depois abordou esta questão com base na reflexão deixada por Francisco.

De acordo com este jovem a caminho do sacerdócio, ir ao encontro destes desafios, para a Igreja Católica, para os seus padres e consagrados, “significa sobretudo estar presente”, apostar no “contacto real com as pessoas”, e “desenvolver um coração generoso, que se deixa tocar pelo sofrimento das pessoas”.

“Se mexe comigo a forma como as pessoas sofrem, vou fazer todos os possíveis, fazer tudo para ter um coração que não se deixa embrutecer. E depois a dimensão profética, ser voz de Cristo no mundo”, salienta o jovem português, que depois deixa uma opinião curiosa.

Não sei o que é mais difícil, se é a Igreja desenvolver esse papel, de ser voz junto dos líderes pelas injustiças do mundo, ou assumir hoje uma certa irrelevância e a partir dessa consciência, de que muitas vezes é irrelevante para o mundo, ter uma presença muito mais autêntica, mais próxima das pessoas. O assumir isso espiritualmente, a Igreja como Corpo assumir isso, pode também trazer muitos frutos, ter muita força.

Depois de um período mais direcionado para a formação em sala, com várias conferências, o encontro internacional de jesuítas em formação vai prosseguir com exercícios espirituais, com um retiro espiritual de oito dias em Assis.

JCP

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