Vaticano: Nuno Crespo é o curador-chefe da primeira Trienal de Arte das Universidades Católicas

Responsável português apresentou projeto que onde «arte, educação e cultura se relacionam», durante Jubileu do Mundo Educativo

Cidade do Vaticano, 31 out 2025 (Ecclesia) – O português Nuno Crespo, diretor da Escola das Artes da UCP, foi nomeado pelo Dicastério para a Cultura e Educação (Santa Sé) para assumir a direção curatorial de um projeto global designado por ‘ART CUT’.

A primeira “Trienal de Arte das Universidades Católicas” vai decorrer em vários países, no próximo ano, adiante o Vaticano.

“A Trienal ART CUT – Trienal de arte das universidades católicas – ambiciona ser uma vasta conversa, uma conversa sonhada por sua eminência o cardeal Tolentino de Mendonça e que se realizará em múltiplas geografias, com uma equipa vasta e em diálogo com diversas instituições,” referiu Nuno Crespo, na apresentação do projeto, esta quinta-feira, no contexto do Jubileu do Mundo Educativo, a decorrer no Vaticano.

Segundo o responsável da Universidade Católica, a iniciativa reúne “uma equipa coletiva para um projeto comum onde arte, educação e cultura se relacionam e mostram a sua centralidade no desenvolvimento de sociedades inteligentes, humanas e empáticas”.

“O que propomos é uma exposição, espalhada pelo mundo, que reunirá artistas que falam diferentes línguas, que desenvolvem diferentes práticas poéticas, artísticas, culturais, sociais e políticas. Comum a todos eles, é a convicção que a arte serve de veículo para uma conversa global acerca do mundo, do humano, das nossas alegrias e das nossas dores,” salienta o diretor da Escola das Artes da UCP, num discurso divulgado pela UCP.

A Trienal de Arte das Universidades Católicas vai decorrer em múltiplos espaços expositivos e numa lógica híbrida que inclui plataformas digitais, instalação urbana e colaboração com instituições académicas e artísticas.

O programa curatorial integra artistas emergentes e consagrados de todo o mundo, desafiando-os a refletir sobre temas contemporâneos.

“A Universidade Católica Portuguesa está comprometida com uma ideia de educação como promessa de futuro, que articule a qualidade profissional com a inovação, a sensibilidade estética e social. A coordenação da Trienal de Arte de Universidades Católicas organizada pela Santa Sé é justamente o reconhecimento de que afirmamos a diversidade e a liberdade da expressão artística como fundamental no nosso modo de formação,” afirmou Isabel Capeloa Gil, reitora da Universidade Católica Portuguesa.

A instituição recorda que o Dicastério para a Cultura e a Educação tem assumido um “papel ativo na promoção da cultura contemporânea”, com participações na Bienal de Veneza, desde 2018, e a recente criação da galeria “Conciliazione 5”, em Roma, no âmbito do Jubileu dos Artistas 2025, espaço que reforça o diálogo entre arte, espiritualidade e sociedade contemporânea.

Falando durante o congresso internacional “Constelações Educativas”, no 60.º aniversário da Declaração ‘Gravissimum Educationis’ do Concílio Vaticano II, Nuno Crespo explicou que a Trienal nasce da convicção de que as linguagens artísticas são “um dispositivo privilegiado para estabelecer relações, diálogos e afinidades sem impedimentos culturais, linguísticos ou políticos”.

Com o mote “exercícios de empatia”, a ART CUT quer sublinhar que “não pode haver arte sem relação, sem alteridade” e não há “arte sem empatia”.

Entre os eixos programáticos, o curador destacou Finding the Way Back Home (casa e reconstrução), Histories of the Body (memória inscrita no corpo), Reclaiming Sleeping and Dreaming (sono e sonhos), Forced to Flee (exílio e migrações) e Having to Breathe (respirar, gritar, dizer), além de uma reflexão sobre amor, amizade e hospitalidade.

O documento de apresentação evoca referências de Bataille, Walter Benjamin, Worringer, Hannah Arendt e Martha Nussbaum, indicando a arte como experiência sentimental e espiritual capaz de ampliar a imaginação moral.

O congresso internacional “Constelações Educativas – Um pacto com o futuro”, um dos momentos centrais do Jubileu do Mundo Educativo, reuniu em Roma responsáveis da Igreja, universidades, organismos internacionais e especialistas para repensar os caminhos da educação em tempos de rápidas transformações.

O cardeal José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, recordou que o Papa Leão XIV utiliza o termo “constelação” para descrever o universo educativo católico, no qual “cada estrela tem uma luminosidade própria, mas todas juntas desenham uma rota”.

“Tenho diante de mim uma assembleia de semeadores e semeadoras de futuro”, afirmou o cardeal português, que definiu a educação como “vocação, estilo de presença e missão apaixonada”.

Em tempos “desafiantes”, a constelação educativa católica deve “reagir com criatividade”, reconstruir a confiança “num mundo dilacerado por polarizações e conflitos”, convencida de que “a educação é o novo nome da paz”.

Numa mensagem aos participantes, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reafirmou que “a educação dos mais jovens e a formação permanente dos cidadãos” constituem “uma prioridade absoluta”.

O congresso incluiu uma conversa com o escritor e Nobel da Literatura 2023, Jon Fosse, moderada por Isabel Capeloa Gil, e a intervenção do astrónomo padre Guy Consolmagno, do Observatório Astronómico do Vaticano.

OC

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