Cardeal Gianfranco Ravasi destaca atualidade dos temas abordados por Bento XVI, evocando «grito» das mães que choram em Gaza
Cidade do Vaticano, 20 nov 2012 (Ecclesia) – O livro de Bento XVI que conclui a sua trilogia sobre ‘Jesus de Nazaré’, hoje lançado no Vaticano, quer ser uma resposta às questões sobre a “origem” de Cristo, disse o cardeal Gianfranco Ravasi, na apresentação da obra.
Segundo o presidente do Conselho Pontifício da Cultura (CPC), o volume intitulado ‘A infância de Jesus’ parte da pergunta feita, antes da condenação à morte de Cristo, pelo governador romano Pôncio Pilatos: “De onde vens tu?”.
“A origem de Cristo não é apenas a das coordenadas históricas, contingentes, mas é algo de mais profundo”, destacou o cardeal italiano, especialista no estudo da Bíblia.
D. Gianfranco Ravasi falou, a este respeito, num texto “performativo” e não apenas informativo, que diz respeito a uma história que continua a ser atual.
“Penso no grito das mães no massacre dos inocentes, que é um grito perene, perpétuo, é um grito universal, que ressoa também nos nossos dias: morrem crianças em Gaza e o grito das mães é um grito contínuo”, exemplificou.
Este responsável sublinhou o binómio “história-fé” em que se desenrola a reflexão de Bento XVI, recusando a teoria de que os relatos dos chamados evangelhos de infância seriam desprovidos de qualquer ligação a eventos reais.
Joseph Ratzinger centra-se na figura que é apresentada pelos evangelhos canónicos, considerando estes livros como as fontes fidedignas sobre a vida de Cristo.
“Procurei interpretar, em diálogo com exegetas do passado e do presente, o que Mateus e Lucas narram no início dos seus evangelhos sobre a infância de Jesus”, refere o atual Papa, no prefácio da sua mais recente obra.
Bento XVI escreve que Jesus não vive “numa omnisciência abstrata”, mas está enraizado “numa história concreta, num lugar e num tempo, nas várias fases da vida humana”.
O volume divide-se em quatro capítulos e aborda o arco histórico que começa na apresentação da genealogia de Jesus e termina na sua separação e reencontro com os pais, em Jerusalém, aos 12 anos.
Em causa estão 180 versículos dos capítulos iniciais dos evangelhos segundo São Mateus e São Lucas, as únicas referências aos primeiros anos da vida de Jesus que se encontram na Bíblia.
A teóloga brasileira María Clara Bingemer, docente na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, foi outra das intervenientes na apresentação da obra à imprensa e afirmou que o livro do Papa é uma “meditação teológica” sobre “o tema da origem de Jesus, a questão da sua proveniência”.
A obra vai chegar a Portugal esta quarta-feira pela mão da Princípia, nas versões impressa, eletrónica e áudio, adiantou o editor Henrique Mota, que se encontrou hoje com o Papa no Vaticano para lhe entregar estas obras.
O livro tem uma tiragem inicial de mais de um milhão de exemplares em oito línguas (italiano, francês, inglês, espanhol, alemão, português [europeu e do Brasil], croata, polaco).
A trilogia sobre ‘Jesus de Nazaré’ começou a ser escrita por Joseph Ratzinger em 2003, antes da sua eleição como Papa, e conclui-se agora, nove anos depois, com um livro apresentado pelo próprio como “uma espécie de pequeno ‘pórtico’”.
OC