Dicastério para a Doutrina da Fé questiona imposição de «pensamento único» que determina a educação das crianças
Cidade do Vaticano,08 abr 2024 (Ecclesia) – O Dicastério para a Doutrina da Fé reforçou hoje as críticas da Igreja Católica à “ideologia do género”, que acusa de propor “uma sociedade sem diferenças de sexo” e esvaziar a “base antropológica da família”.
“A Igreja evidencia os intensos pontos críticos da ideologia do género (gender)”, refere a declaração doutrinal, ‘Dignidade infinita’, publicada após cinco anos de trabalho.
O texto, enviado à Agência ECCLESIA, cita o Papa, que a respeito do 75.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, questionava as “tentativas realizadas nas últimas décadas para introduzir novos direitos”, falando em “colonizações ideológicas”.
“Entre elas, tem um papel central a ideologia do género, extremamente perigosa porque elimina as diferenças na pretensão de tornar todos iguais”, indicava Francisco.
O Vaticano apresenta a vida humana como “dom de Deus, que se deve acolher com gratidão e colocar a serviço do bem”.
“Querer dispor de si, como prescreve a ideologia do género, independentemente desta verdade basilar da vida humana como dom, não significa outra coisa senão ceder à antiquíssima tentação do homem que se faz Deus e entrar em concorrência com o verdadeiro Deus do amor, revelado no Evangelho”, acrescenta o texto.
A Doutrina da Fé destaca o valor da “diferença sexual” entre homem e mulher, apelando ao “respeito pelo próprio corpo e pelo dos outros”, diante da “proliferação dos pretensos novos direitos”.
“É, pois, inaceitável que algumas ideologias deste tipo, que pretendem responder a certas aspirações, por vezes compreensíveis, tentem impor-se como um pensamento único que determine a educação das crianças”, indica o Vaticano.
A declaração doutrinal aborda ainda o tema da mudança de sexo, considerando que qualquer intervenção neste campo se “arrisca a ameaçar a dignidade única que a pessoa recebeu desde o momento da conceção”.
“Isto não significa excluir a possibilidade que uma pessoa portadora de anomalias dos genitais, já evidentes desde o nascimento ou que se manifestem posteriormente, possa decidir receber assistência médica com o fim de resolver tais anomalias”, assinala o documento.
A nota doutrinal, fruto de cinco anos de trabalho, passa em revista o magistério papal das últimas décadas sobre temas que vão da guerra à pobreza, da violência contra os migrantes ou contra as mulheres, do aborto à maternidade de substituição e à eutanásia, abordando ainda a ideologia do género e a dignidade da pessoa com deficiência.
O Vaticano rejeita quaisquer formas de discriminação ou violência, considerando “contrárias à dignidade humana” práticas como a prisão, tortura ou mesmo a pena de morte por causa de determinada “orientação sexual”.
OC