Cardeal Víctor Fernández sublinhou que novo documento vai para lá da questão da poligamia no continente africano

Cidade do Vaticano, 25 nov 2025 (Ecclesia) – O prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé (DDF), da Santa Sé, afirmou hoje em conferência de imprensa que a nota doutrinal ‘Una Caro’, lançada esta manhã pelo Vaticano, tem como objetivo primordial “motivar a monogamia” num contexto global onde a exclusividade conjugal é desafiada.
“Dizem que falamos sobre a poligamia em África, mas existem outras formas de poligamia que não são tão públicas, tão explícitas, mas que são igualmente ofensivas para a dignidade das mulheres”, declarou o cardeal Víctor Fernández.
O colaborador do Papa destaca que o texto procura responder tanto à poligamia tradicional em África como às formas de infidelidade no Ocidente, realçando que a origem do documento remonta à escuta dos bispos africanos que “não conseguiam motivar os jovens para essa união exclusiva”.
D. Víctor Fernández respondeu a uma questão sobre a aplicação do documento a uniões entre pessoas do mesmo sexto, reiterando a doutrina católica sobre a natureza do matrimónio e distinguindo-a de outras formas de união.
“Se não é entre um homem e uma mulher, não é precisamente um casamento. Se não é exclusiva, se é entre quatro ou cinco pessoas, não é um casamento”, sustentou.
O cardeal argentino acrescentou que, segundo a conceção católica, “se é uma coabitação, não é uma união, não é um casamento”, reforçando a necessidade da indissolubilidade.
Apesar da distinção doutrinal, o responsável admitiu que valores éticos presentes no documento podem aplicar-se a outros contextos relacionais.
“Quando se fala de paciência, respeito, etc., isso também se aplica a uma relação entre amigos, não é verdade?”, questionou o cardeal, indicando que o respeito pela mulher é transversal.
O documento aborda também a questão da “não pertença” como forma de combater abusos e violência, aplicando este princípio inclusive à vida sacerdotal e ao celibato.
“Eu, como padre, não posso pretender preencher o meu sentimento de solidão usando outra pessoa. É daí que vêm também os abusos”, alertou D. Víctor Fernández.
Para o prefeito do DDF, a violência contra as mulheres e o feminicídio estão ligados a uma lógica de domínio que a nota doutrinal procura contrariar.
“A palavra feminicídio não apareceu, mas na descrição da não pertença com esses riscos, da violência contra as mulheres, certamente tínhamos em mente essa questão muito grave”, assegurou.
Sobre a sexualidade e a contraceção, o texto recupera o pensamento de São João Paulo II e Paulo VI, valorizando o ato conjugal como expressão de amor, mesmo sem fim procriativo imediato.
“O casal pode aproveitar as manifestações de afeto para salvaguardar a fidelidade mútua”, referiu, acrescentando que tal demonstra “um amor verdadeiramente e integralmente honesto”.
O documento, pronto há vários meses, teve a sua publicação agendada para não coincidir com a recente exortação do Papa Leão XIV, ‘Dilexi Te’, procurando oferecer “material rico” para a missão pastoral de bispos e párocos.
O prefeito do DDF destacou o facto de a nota doutrinal ser publicada no Dia Internacional para a Eliminação da Violência Contra as Mulheres.
Em Portugal, a presidência da República assinala este “Orange Day” das Nações Unidas, iluminando o Palácio de Belém de cor de laranja para “dar visibilidade a esta causa”.
OC
Igreja/Família: Vaticano elogia monogamia e rejeita «poliamor», em nova nota doutrinal
