Vaticano: «Nem sempre é fácil», admite Francisco, associando-se ao Jubileu dos Doentes e do Mundo de Saúde

«Não há dúvida que a doença é uma das provas mais difíceis e duras da vida, durante a qual tocamos com a mão o quanto somos fráges», refere o Papa, na homilia escrita para Missa que reuniu milhares de pessoas, na Praça de São Pedro

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 06 abr 2025 (Ecclesia) – O Papa evocou hoje, num texto lido no Vaticano, as dificuldades do seu atual estado de saúde, assumindo um momento de fragilidade e dependência da ajuda dos outros.

“Convosco, queridos irmãos e irmãs doentes, neste momento da minha vida, estou a partilhar muito: a experiência da doença, de me sentir frágil, de depender dos outros em tantas coisas, de precisar de apoio”, refere Francisco, na homilia que preparou para a Missa do Jubileu dos Doentes e do Mundo de Saúde, celebrada na Praça de São Pedro.

“Nem sempre é fácil, mas é uma escola na qual aprendemos todos os dias a amar e a deixarmo-nos amar, sem exigir nem recusar, sem lamentar nem desesperar, agradecidos a Deus e aos irmãos pelo bem que recebemos, abertos e confiantes no que ainda está para vir”, acrescenta o texto, lido pelo presidente da celebração, D. Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização, perante milhares de pessoas.

O arcebispo italiano saudou Francisco, no início da celebração, dirigindo-se a todos os presentes.

“A poucos metros de nós, o Papa Francisco, desde o seu quarto, em Santa Marta, está particularmente próximo de nós e está a participar, como tantas pessoas doentes, frágeis, nesta Santa Eucaristia, através da televisão”, disse, sendo interrompido por uma salva de palmas da multidão.

“Estou particularmente feliz e honrado por oferecer a minha voz para ler a homilia que ele preparou para esta ocasião”, acrescentou.

O Papa regressou à Casa de Santa Marta no dia 23 de março, após o maior internamento do atual pontificado, iniciado a 14 de fevereiro, no Hospital Gemelli, na sequência de uma infeção polimicrobiana das vias respiratórias, que se agravou para uma pneumonia bilateral.

“Não há dúvida que a doença é uma das provas mais difíceis e duras da vida, durante a qual tocamos com a mão o quanto somos frágeis”, assinala a homilia.

Francisco admite que, nos momentos de dor, é possível sentir-se “privados de esperança no futuro”.

“Nesses momentos, Deus não nos deixa sozinhos e, se nos abandonarmos a Ele, precisamente onde as nossas forças falham, podemos experimentar a consolação da sua presença”, sustentou.

Mas não só! Com o seu amor cheio de confiança, Ele envolve-nos para que, por sua vez, nos tornemos nós mesmos, uns para os outros, ‘anjos’, mensageiros da sua presença, a tal ponto que tanto para quem sofre como para quem presta assistência, a cama de um doente se pode transformar, muitas vezes, num ‘lugar santo’ de salvação e redenção”.

A homilia deixa uma palavra de agradecimento aos médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde, pelo seu papel junto dos mais frágeis, convidando todos a viver “com gratidão, misericórdia e esperança”.

“Enfrentar juntos o sofrimento torna-nos mais humanos e partilhar a dor é uma etapa importante em qualquer caminho de santidade”, indica.

A reflexão partiu de uma passagem do livro do profeta Isaías, texto do Antigo Testamento, em que Deus se dirige ao povo de Israel exilado na Babilónia, num momento difícil, em que “parece que tudo está perdido”.

“Os horizontes parecem fechados, o futuro sombrio e todas as esperanças destruídas. Tudo poderia levar os exilados a desistir, a resignar-se desoladamente e a deixar de se sentir abençoados por Deus”, escreve o Papa.

Francisco diz que, nesse momento, Deus “convida a acolher algo de novo que está a nascer”, um “povo novo”, a quem é pedida a “conversão do coração, na prática do direito e da justiça, na atenção aos pobres e necessitados, nas obras de misericórdia”.

A reflexão aborda, em seguida, o episódio da mulher adúltera, relatado pelo Evangelho segundo São João, no qual Jesus intervém para impedir que seja condenada à morte, “dando-lhe a possibilidade de começar uma nova existência”.

Com estas narrativas dramáticas e comoventes, a liturgia de hoje convida-nos a renovar, no caminho quaresmal, a confiança em Deus, que está sempre ao nosso lado para nos salvar. Não há exílio, nem violência, nem pecado, nem qualquer outra realidade da vida que o impeça de estar à nossa porta e bater, pronto a entrar logo que lho permitamos”.

A homilia apresentou o quarto do hospital e a cama da doença como “lugares para ouvir a voz do Senhor” e “renovar e fortalecer a fé”.

Francisco citou o Papa Bento XVI, que deixou um “belíssimo testemunho de serenidade durante o período da sua doença”.

“Caríssimos, não afastemos da nossa vida aqueles que estão fragilizados, como por vezes hoje, infelizmente, faz um certo tipo de mentalidade, nem ostracizemos a dor dos nossos ambientes”, apelou.

O Vaticano acolheu, desde sábado, 20 mil peregrinos para o Jubileu dos Doentes e do Mundo da Saúde, o sétimo grande evento do Ano Santo 2025.

Entre os participantes estão doentes, médicos, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, profissionais e técnicos de saúde, provenientes de mais de 90 países.

O Papa Bonifácio VIII instituiu, em 1300, o primeiro Ano Santo – com recorrência centenária, passando depois, segundo o modelo bíblico, cinquentenária e finalmente fixado de 25 em 25 anos.

OC

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