O novo documento da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), intitulado “Respostas a dúvidas sobre alguns aspectos relativos à doutrina sobre a Igreja”, não quer colocar dificuldades suplementares ao diálogo ecuménico. A certeza é transmitida por vários responsáveis do Vaticano, que procuram minimizar o efeito de algumas das declarações emitidas nesse documento, sobretudo as relativas às “comunidades cristãs nascidas da Reforma”, às quais é rejeitada a denominação de Igreja, dado que “não têm a sucessão apostólica no sacramento da Ordem e, por isso, estão privadas de um elemento essencial constitutivo da Igreja”. “Ditas comunidades eclesiais que, sobretudo pela falta do sacerdócio sacramental, não conservam a genuína e íntegra substância do Mistério eucarístico, não podem, segundo a doutrina católica, ser chamadas ‘Igrejas’ em sentido próprio”, refere o último parágrafo do documento. O Secretário da CDF, Arcebispo Angelo Amato, revelou à Rádio Vaticano que só “eliminando interpretações erróneas sobre a Igreja, as ‘Respostas’ contribuem para reforçar o diálogo ecuménico que, além da abertura aos interlocutores, deve também salvaguardar a identidade da fé católica”. “Só de tal forma se poderá chegar à unidade de todos os cristãos ‘num só pastor’ (Jo 10, 16) e sanar assim essa ferida que ainda impede a Igreja Católica de realizar plenamente a sua universalidade na história”, acrescentou. Este responsável, que assina o documento juntamente com o Cardeal William Levada (presidente da CDF), sublinha que a ” única Igreja de Cristo, apesar das divisões, subsiste na história na Igreja Católica”, pelo que não seria correcto pensar “que a Igreja de Cristo hoje não existiria já em algum lugar ou que existiria só de forma ideal, ou seja, em perspectiva de uma futura convergência ou reunificação das diversas Igrejas irmãs, desejada e promovida pelo diálogo”. O documento da CDF quis combater interpretações “erróneas ou redutoras” da doutrina conciliar sobre a Igreja. Na linha do quem a fazer Bento XVI desde o início do pontificado, combate-se qualquer relativismo que tornasse indiferente a pertença a qualquer comunidade cristã, frisando que a Igreja Católica é uma referência religiosa e moral única. O Pe. Augustine di Noia, subsecretário da CDF, disse que o documento não altera o compromisso com o diálogo ecuménico, mas visa a afirmar a identidade católica. “A Igreja não está a recuar no compromisso ecuménico”, referiu, indicando que “é fundamental em qualquer tipo de diálogo que os participantes sejam claros sobre a sua identidade”. O presidente do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Walter Kasper, veio hoje a público desvalorizar as reacções “a quente” de alguns cristãos protestantes, considerano que “uma segunda leitura mais serena poderá mostrar que o Documento não afirma nada de novo”, limitando-se a expor a posição que a Igreja Católica sempre defendeu. Para o Cardeal alemão, a definição do “perfil católico” ajuda a compreender melhor “tudo aquilo que ainda nos divide, não limitando o diálogo, mas favorecendo-o”. Notícias relacionadas Respostas a questões relativas a alguns aspectos da doutrina sobre a Igreja