Francisco pediu «atenção aos mais fracos e promoção da legalidade»
Cidade do Vaticano, 10 jan 2024 (Ecclesia) – O Papa Francisco recebeu hoje representantes da DIALOP – Plataforma de Diálogo entre Cristãos e Marxistas, a quem pediu que “não percam a capacidade de sonhar” e a “coragem” de lutar pelos mais desfavorecidos.
“Hoje, num mundo dividido por guerras e polarizações, corremos o risco de perder a capacidade de sonhar”, disse, num encontro que decorreu antes da audiência pública semanal, no Vaticano.
“Este é o convite que lhes faço: não recuem, não desistam, não parem de sonhar com um mundo melhor. É na imaginação que a inteligência, a intuição, a experiência e a memória histórica se unem para criar, aventurar-se e arriscar”, acrescentou, numa intervenção divulgada pela sala de imprensa da Santa Sé.
Entre os representantes da DIALOP estava o ex-deputado português José Manuel Pureza, que preside ao Comité Científico da plataforma.
Francisco recomendou três atitudes válidas para o compromisso da DIALOP: a coragem de romper os esquemas, a atenção aos mais fracos e a promoção da legalidade.
“Primeiro, ter a coragem de romper com os moldes e abrir-se, no diálogo, para novos caminhos. Numa época marcada a vários níveis por conflitos e divisões, não percamos de vista o que ainda pode ser feito para inverter a rota”, indicou.
Sobre a segunda atitude, a “atenção aos mais fracos”, o Papa explicou que a medida de uma civilização “pode ser vista pela forma como os mais vulneráveis são tratados”, e pediu que não esqueçam que “as grandes ditaduras”, por exemplo o nazismo, “descartaram os vulneráveis, mataram-nos, descartaram-nos”.
“Uma civilização vê-se pela forma como os mais vulneráveis são tratados: os pobres, os desempregados, os sem-abrigo, os imigrantes, os explorados, e todos aqueles que a cultura do descarte transforma em lixo. E essa é uma das piores coisas”, desenvolveu.
Francisco observou que uma política que esteja realmente ao serviço do homem “não se pode deixar ditar pelos mecanismos financeiros e de mercado”, e que a solidariedade, para além de ser uma virtude moral, “é uma exigência de justiça, que requer a correção das distorções e a purificação das intenções de sistemas injustos”.
Neste contexto, o Papa revelou que gosta de chamar “poeta social” a quem trabalha nesta área, “porque poesia é criatividade” e aqui colocam “a criatividade ao serviço da sociedade, para que ela seja mais humana e fraterna”.
“Não tenham medo da poesia, a poesia também é criatividade. Não vamos nos esquecer dessa capacidade de sonhar”, acrescentou.
Sobre a terceira atitude, a promoção da legalidade, Francisco apelou a um compromisso para “combater o flagelo da corrupção, o flagelo do abuso de poder e a ilegalidade”, porque apenas com honestidade “é possível estabelecer relacionamentos saudáveis e cooperar com confiança e eficácia na construção de um futuro melhor”.
O Papa começou o seu discurso com as boas-vindas aos representantes do DIALOP, destacando que “empenhados na promoção do bem comum através do diálogo entre socialistas/marxistas e cristãos”, há muitos anos, considerando que este é “um belo programa”.
CB/OC
A audiência do Papa à delegação da DIALOP – Plataforma de Diálogo entre Cristãos e Marxistas realizou-se nas vésperas do início da Conferência ‘Ecologia integral – Para uma transformação social ecológica’, que se vai realizar de 11 a 13 de janeiro, no Instituto Universitário Sophia, administrado pelo Movimento dos Focolares, em Loppiano, na Itália.
A conferência começa com a intervenção do cardeal português D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação Católica (Santa Sé), que vai abordar o pensamento do Papa Francisco sobre ecologia integral, nomeadamente na encíclica Laudato Si’. Do programa destaque também para a participação do padre Manuel Barrios Prieto, secretário-geral da Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia (COMECE), e de Luigino Bruni, professor de Economia Política e do Movimento dos Focolares. O Projeto de Diálogo Transversal DIALOP também marcou presença na edição internacional da Jornada Mundial da Juventude em Portugal, a JMJ Lisboa 2023, promoveu o workshop ‘Comunicação em tempos de guerra’, com 134 jovens de 20 países. |