Vaticano: Mudança na comunicação gerou novo «modelo humano», diz cardeal

Conselho Pontifício da Cultura promoveu encontro de diálogo com não crentes, centrado nos jornalistas

Roma, 25 set 2013 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Pontifício da Cultura (CPC) disse hoje em Roma que os jornalistas e Igreja devem unir-se para enfrentar as “gravíssimas” questões levantadas por um novo tipo de comunicação.

“Com este novo modo de comunicar, temos um novo modelo humano, um novo fenótipo antropológico”, declarou o cardeal Gianfranco Ravasi, durante a sessão dedicada aos jornalistas do ‘Átrio dos Gentios’, estrutura do Vaticano dedicada ao diálogo com os não crentes.

O cardeal gracejou com o facto de muitos dos termos usados na linguagem informática serem “claramente teológicos”, dando uma série de exemplos: salvar, converter, justificar, ícone.

À imagem do que já afirmou noutros encontros do género, incluindo a sessão de Braga e Guimarães do Átrio dos Gentios (novembro de 2012), o presidente do CPC comparou as frases curtas, “essenciais”, de Jesus nos Evangelhos, às atuais mensagens da rede social Twitter, com um máximo de 140 carateres.

“Jesus Cristo adotou o uso do ‘tweet’ de forma sistemática, aquilo a que os estudiosos, com um termo extremamente sofisticado, arcaico, chamam os ‘logia’”, ressaltou.

O modelo comunicativo de Jesus aproximava-se ainda da atual produção televisiva, com a “articulação das parábolas”, através de símbolos, e recorria à “corporeidade”, acrescentou o cardeal italiano.

Neste contexto, o responsável da Cúria Romana disse que quando um padre “não se interessa pela comunicação, está verdadeiramente fora do seu próprio ministério”

O debate contou com a participação do fundador do jornal italiano ‘La Repubblica’, Eugenio Scalfari, que recentemente trocou correspondência com o Papa.

“Não estamos aqui para converter-nos, mas temos em comum a convicção de que as nossas posições diferentes devem ser fermento para uma terra que precisa de ser fertilizada”, disse Scalfari.

O cardeal Ravasi destacou, por outro lado, a transformação do conceito clássico e religioso de verdade, que passou do “transcendente” a conquistar pelo ser humano para um conceito subjetivo, “elaborado pelo indivíduo”.

O ‘Átrio dos Jornalistas’ reuniu os responsáveis dos principais jornais italianos para uma primeira reflexão entre profissionais da comunicação, crentes e não crentes, sobre várias temáticas.

A iniciativa de hoje visou promover a discussão sobre temas como “ética da sociedade e ética da comunicação”, “liberdade e responsabilidade na informação” ou “jornalismo, cultura e fé”.

Durante os trabalhos, foi pedido respeito pela “inquietação própria” do não-crente, que difere da busca de uma fé religiosa.

Os participantes destacaram também o renovado interesse dos meios de comunicação na vida da Igreja, por causa do pontificado do Papa Francisco.

OC

Partilhar:
Scroll to Top