O Vaticano apresentou esta Terça-feira duas iniciativas destinadas a assinalar o 50.º aniversário da morte de Pio XII, que aconteceu a 9 de Outubro de 1958. Em conferência de imprensa, o presidente do Comité Pontifício para as Ciências Históricas (CPCH), Walter Brandmüller, lamentou que a historiografia aborde a figura e a missão dos Papas “numa chave sobretudo política”. “É nossa esperança que a solene comemoração de um tão grande Papa possa oferecer o ponto de partida para posteriores pesquisas aprofundadas, livres de preconceitos, sobre a sua obra, baseadas sobretudo na documentação conservada nos Arquivos do Vaticano”, indicou. No encontro com os jornalistas foram dados a conhecer o Congresso sobre o magistério deste Papa (Universidades Gregoriana e Lateranense, 6-8 de Novembro 2008) e a mostra fotográfica “Pio XII: o homem e o pontificado” (Vaticano, 21 de Outubro a 6 de Janeiro de 2009). Mons. Brandmüller frisou que “o sucessor de Pedro (o Papa, ndr) é acima de tudo uma figura religiosa, espiritual”, algo que, defendeu, “corresponde verdadeiramente à autocompreensão de Pio XII, que já era denominado pelos seus contemporâneo como Pastor Angélico”. “É nossa intenção colocar em evidência a verdadeira dimensão do ministério petrino que, pela sua natureza, não pode ser outra que a do Sumo Pastor, isto é o anúncio da verdade do Evangelho de Cristo e a orientação espiritual da Igreja”, referiu. O CPCH foi encarregado de projectar e organizar as manifestações que assinalam o aniversário da morte do Papa Pacelli, guiou a Igreja durante a II Guerra Mundial (foi eleito a 1 de Março de 1939). Este responsável lamentou a ausência de uma “investigação adequada” sobre a actividade deste Papa quando era ainda Núncio Apostólico na Alemanha e Secretário de Estado do Vaticano, indicando como excepções à regra duas biografias recentes, de Philippe Chenaux e de Andrea Tornielli. Este último estudou documentos inéditos para produzir a obra “O Papa que salvou os judeus”, dedicado à figura de Pio XII, na qual defende que a Santa Sé, na imediata ascensão ao poder por parte de Hitler, interveio em favor dos judeus para dissuadir a Alemanha nazi das políticas discriminatórias em relação a eles. No livro existe um capítulo onde são denunciados “erros, falsidades, omissões e despropósitos presentes em muitas publicações sobre Pio XII”. Para o autor, era necessário “demonstrar ao que pode levar o uso dos documentos num único sentido e o desprezo pela voz viva das testemunhas”. A ideia negativa sobre o Papa Pio XII começou-se a consolidar desde a obra teatral “O Vigário” escrita em 1963 por Ralf Hoch Hunt, que lançou as bases para uma visão particular de Eugénio Pacelli, que em 1939 foi eleito Papa com o nome de Pio XII. Em 1999, John Cornwell publicou “O Papa de Hitler” e Daniel Goldhagen, em 2002, apresentou o livro “A Moral Reckoning”, ambos com visões negativas sobre o papel desempenhado por este Papa na II Guerra Mundial – supostamente por ser apoiante de Hitler e não ter mostrado compaixão perante o sofrimento do povo judaico. Na altura da sua morte, contudo, Pio XII era muito admirado. O escritor Graham Greene disse sobre Pio XII que foi “um Papa que muitos de nós acreditam será classificado entre os maiores de sempre”. O diplomata israelita Pinchas Lapide escreveu em 1967 que Pio XII foi providencial para salvar “pelo menos 700 mil Judeus, provavelmente até 860 mil, das mãos dos nazis”.