Papa evocou final da I Guerra Mundial, «massacre inútil» denunciado pelos seus predecessores

Cidade do Vaticano, 12 nov 2025 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje, no Vaticano, a gestos concretos de fraternidade, por parte dos católicos, para superar as guerras e os discursos de “ódio” que marcam a sociedade.
“Sabemos que, ainda hoje, a fraternidade não pode ser tomada como garantida, não é algo imediato; muitos conflitos, tantas guerras espalhadas pelo mundo, tensões sociais e sentimentos de ódio parecem demonstrar o contrário. A fraternidade, contudo, não é um sonho belo e impossível, não é o desejo de alguns iludidos”, disse, na audiência geral que decorreu na Praça de São Pedro.
Perante milhares de peregrinos reunidos esta manhã, o Papa ligou a ressurreição de Jesus, coração da fé, à vida concreta das comunidades catíolicas.
“Acreditar na morte e ressurreição de Cristo e viver a espiritualidade da Páscoa incute esperança na vida e encoraja-nos a investir na bondade”, afirmou, sublinhando que esta experiência “ajuda a amar e a cultivar a fraternidade”.
Leão XIV assinalou o aniversário do fim da I Guerra Mundial (11 de novembro de 1918), citando Bento XV, para quem o conflito foi uma “matança inútil”.
“Somos gratos a Deus pela dádiva da paz, da qual, como afirmava Santo Agostinho, ‘nada é absolutamente melhor’. Guardemo-la com o coração enraizado no Evangelho, no espírito de fraternidade e de amor pela pátria”, apelou.
Na catequese semana, o pontífice apresentou a fraternidade como dado “profundamente humano”, enraizado na capacidade de tecer relações que sustentam o crescimento de cada pessoa.
“Sem as relações, que nos apoiem e enriqueçam desde o início da nossa vida, não poderíamos sobreviver, crescer ou aprender”, indicou.
O Papa advertiu para as consequências do fechamento individual, que mina a convivência e fragiliza os laços sociais.
“Se nos isolarmos, corremos o risco de adoecer de solidão e até de desenvolver um narcisismo que nos leva a preocuparmo-nos com os outros apenas por interesse próprio”, observou.
“O outro reduz-se, então, a alguém a quem tiramos, sem que nunca estejamos verdadeiramente dispostos a dar, a doar-nos”., acrescentou.
Leão XIV insistiu que a unidade é tarefa possível e urgente.
“A fraternidade não é um sonho belo e impossível, não é o desejo de alguns iludidos”, declarou, propondo um caminho de retorno “às fontes” da fé.
Evocando a saudação universal de São Francisco de Assis, “todos irmãos”, o pontífice deteve-se na raiz da palavra “irmão”, que “significa cuidar, amar, apoiar e sustentar”, e convidou a alargar este horizonte a todos os seres humanos.
“O Papa Francisco reiterou esta abordagem do Pobrezinho de Assis, destacando a sua relevância depois de 800 anos, na encíclica ‘Fratelli tutti’”, recordou.
Para Leão XIV, a fraternidade cristã nasce do mandamento novo de Jesus e do seu cumprimento na Páscoa.
“Este ‘todos’ (tutti)… exprime um traço essencial do cristianismo, que desde o princípio tem sido a proclamação da Boa Nova destinada à salvação de todos, nunca de forma exclusiva ou privada”, explicou
Os irmãos e as irmãs apoiam-se mutuamente nas provações, não viram as costas aos necessitados: choram e alegram-se juntos, numa perspetiva ativa da unidade, da confiança e do acolhimento mútuo.”

O Papa destacou que a fraternidade concedida por Cristo “liberta da lógica negativa do egoísmo, da divisão e da prepotência.
Na saudação aos peregrinos de língua portuguesa, Leão XIV reforçou a mensagem da catequese.
“O Senhor ressuscitado chama-nos a sonhar a fraternidade com gestos, palavras e obras concretas. Trata-se do dom da vida, que implica um contínuo rivalizar uns com os outros na estima mútua e no cuidado recíproco. Deus vos abençoe!”, declarou.
Antes de se despedir da assembleia, o Papa recordou que no último sábado, em Kochi, estado indiano de Kerala, foi beatificada Madre Elisa Vakayil, que viveu no século XIX e foi fundadora da Ordem Terceira das Carmelitas Descalças Teresianas.
“O seu corajoso empenho em favor da emancipação das meninas mais pobres é fonte de inspiração para todos aqueles que trabalham, na Igreja e na sociedade, pela dignidade da mulher”, referiu.
Leão XIV dirigiu-se ainda a outros grupos de peregrinos, pedindo que sejam “testemunhas cada vez mais autênticas e credíveis do Evangelho na família, no trabalho e em todos os âmbitos da sociedade”.
OC
