Diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e Guilherme d’Oliveira Martins analisam perfil, diversidade de experiências do Papa e alcance do pontificado, em temas como a sinodalidade e o desejo de paz

Lisboa, 22 mai 2025 (Ecclesia) – A diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS), da Conferência Episcopal Portuguesa, acredita que o Papa Leão XIV será um “homem com os pés na terra e os olhos no céu”.
“Eu acho que podemos esperar um Papa que vive com os pés no chão, na terra, que conhece a vida, de modo particular, conhece a vida dos mais pobres, viveu com eles, que é completamente diferente de conhecermos teoricamente a vida dos pobres”, afirmou a responsável, em entrevista à Agência ECCLESIA.
Isabel Figueiredo justifica que o Papa vai estar de olhos postos no céu, uma vez que já fez “referências diretas, várias vezes, à dimensão espiritual” da decisão de ser cristão.
O programa 70×7 (RTP2, 17H30) deste domingo inclui diferentes perspetivas sobre o pontificado de Leão XIV, norte-americano, eleito Papa no dia 8 de maio, depois de um percurso marcado pela experiência missionária na América Latina, pela liderança da Ordem de Santo Agostinho, desempenhando o papel de prefeito do Dicastério dos Bispos até à eleição.
Guilherme d’Oliveira Martins, administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, é uma das vozes que analisa o pontificado que agora começou, considerando que o novo Papa “é uma grande esperança para a Igreja”.
O ex-ministro assinala o facto de Leão XIV se seguir a três “pontificados muito marcantes” e “muito fortes” – João Paulo II, Bento XVI e Francisco – e realça que o perfil do novo pontífice é “muito desafiante”, já que é alguém originário dos EUA, um “Papa missionário”, um “Papa peregrino”.
E isso é muito importante. Eu costumo dizer, enfim, com os meus botões, que o Papa Francisco estará contente pelo facto de lhe suceder o Papa Leão XIV. Exatamente porque tem um perfil diferente do perfil do Papa Francisco, mas complementar”, destaca.
Para Guilherme d’Oliveira Martins, a sucessão de Leão XIV a Francisco “é uma sequência natural”, salientando que o novo Papa tem “uma forte presença, uma forte preocupação pastoral”, algo que é “significativo”.
Isabel Figueiredo Canotilho destaca a diversidade do percurso biográfico do Papa e de experiências de trabalho, como o papel de bispo no Peru, a integração nos Agostinhos, o trabalho na Cúria Romana, que defende que são mais-valias que “enriquecem fortemente e grandemente a sua escolha e o seu pontificado”.
“Este Papa vai com certeza surpreender o mundo, tenho essa convicção”, manifesta.
Sobre a origem de Leão XIV, o administrador executivo da Fundação Calouste Gulbenkian salienta que a “Igreja não é mais eurocêntrica”, citando o Papa João XXIII, “a Igreja é universal”, e, nesse sentido, “é muito bom que, a seguir ao Papa Francisco”, haja “um Papa muito ligado ao Sul”.
“É verdade que nasceu nos Estados Unidos, tem uma marca forte e assumiu a sua identidade própria, mas, como Papa missionário, como agostiniano, ele afirma-se exatamente aí, claramente, na linha do Papa Francisco”, indicou.
![]() “Eu penso que as viagens serão decisivas, percebemos onde é que este Papa quer ir e o que é que ele vai dizer quando for aos países que visitar. Agora, tem que haver continuidade, não pode deixar de haver continuidade”, realçou. Também Guilherme d’Oliveira Martins concorda que há uma continuação entre o pontificado do Papa Francisco e de Leão XIV, salientando “com especial ênfase a sinodalidade”. O antigo ministro acredita que o “Papa vai estar confrontado com o grande desafio da sinodalidade”, uma vez que “o Sínodo não está fechado”. “E, nesse aspeto, o Papa Francisco deixou-nos tudo aquilo de que precisamos. O Papa Francisco explicou-nos, exatamente, que não fechámos ainda o Sínodo e, mais, que o Sínodo é uma permanência”, evidenciou.
Além do Sínodo, o entrevistado lembra outros desafios deixados por Francisco, nomeadamente o “papel crescente da mulher na Igreja” e “os documentos que deixou”. |
Relativamente à paz, Isabel Figueiredo ressalta que este foi um “dos maiores pedidos do Papa Francisco até ao seu último minuto” e que este também foi um apelo feito nos primeiros momentos do pontificado de Leão XIV.
“Uma aparente vontade ou desejo ou aspiração que o Vaticano possa ter algum papel importante na mediação da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, claro que nos dá alguma esperança”, refere a responsável. Ainda assim, a diretora do SNCS fala que Leão XIV ainda não tem tempo suficiente de magistério para se perceber como vai proceder relativamente a este tema. “Temos a sensação de que há um desejo nítido desse papel de mediador e de ser uma voz de paz no mundo. Há também pedidos expressos, o Papa acabou de pedir para se rezar todos os dias o Terço pela Paz. Portanto, há esta vontade”, identifica. |
PR/LJ