Vaticano: Leão XIV assume preocupação com «ateísmo prático» e «perda do sentido da vida» para muitas pessoas

Primeira Missa do novo Papa foi celebrada na Capela Sistina, junto dos cardeais que participaram no Conclave

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 09 mai 2025 (Ecclesia) – O Papa proferiu hoje a sua primeira homilia, na Missa que assinalou o final do Conclave, apelando ao anúncio da fé numa sociedade marcada pelo “ateísmo prático” e a “perda do sentido da vida” para muitas pessoas.

“Ainda hoje, não faltam contextos nos quais Jesus, embora apreciado como homem, é simplesmente reduzido a uma espécie de líder carismático ou super-homem, e isto não apenas entre os não crentes, mas também entre muitos batizados, que acabam por viver, a este nível, num ateísmo prático”, referiu o novo pontífice, na Capela Sistina, junto dos cardeais que participaram na eleição que decorreu entre quarta e quinta-feira.

“Este é o mundo que nos está confiado e no qual, como tantas vezes nos ensinou o Papa Francisco, somos chamados a testemunhar a alegria da fé em Jesus Salvador”, acrescentou, numa intervenção lida em italiano.

Leão XIV assumiu que, na sociedade contemporânea, muitos olham para a fé cristã como “uma coisa absurda, para pessoas fracas e pouco inteligentes” e se preferem “outras seguranças, como a tecnologia, o dinheiro, o sucesso, o poder e o prazer”.

“São ambientes onde não é fácil testemunhar nem anunciar o Evangelho, e onde quem acredita se vê ridicularizado, contrastado, desprezado, ou, quando muito, suportado e digno de pena”, observou.

No entanto, precisamente por isso, são lugares onde a missão se torna urgente, porque a falta de fé, muitas vezes, traz consigo dramas como a perda do sentido da vida, o esquecimento da misericórdia, a violação – sob as mais dramáticas formas – da dignidade da pessoa, a crise da família e tantas outras feridas das quais a nossa sociedade sofre”.

 

O sucessor de Francisco e os seus eleitores celebraram a chamada missa ‘pro Ecclesia’ (pela Igreja), durante a qual foi ouvida a primeira homilia do pontificado.

Para o novo Papa, a Igreja Católica deve procurar chegar às pessoas “não tanto pela magnificência das suas estruturas ou pela grandiosidade dos seus edifícios”, mas pela “santidade dos seus membros”.

A intervenção, mais virada para o interior da Igreja, destacou a importância de conhecer a realidade, “com os seus limites e potencialidades, as suas interrogações e convicções”, convidando a refletir sobre a imagem que as pessoas têm de Jesus.

“Há um mundo que considera Jesus uma pessoa totalmente desprovida de importância, quando muito uma personagem curiosa, capaz de suscitar admiração com a sua maneira invulgar de falar e agir. Por isso, quando a sua presença se tornar incómoda, devido aos pedidos de honestidade e às exigências morais que invoca, este ‘mundo’ não hesitará em rejeitá-lo e eliminá-lo”, referiu.

Leão XIV recordou ainda a atitude das “pessoas comuns” que acompanharam Cristo, como “um homem justo, corajoso, que fala bem e que diz coisas certas, como outros grandes profetas da história de Israel”.

“Seguem-no, pelo menos enquanto podem fazê-lo sem demasiados riscos ou inconvenientes. Porém, porque essas pessoas o consideram apenas um homem, no momento do perigo, durante a Paixão, também elas o abandonam e vão embora, desiludidas”, assinalou.

A celebração, vista como o primeiro momento em que o Papa apresenta linhas de força para o pontificado, contou em 2005 com uma homilia em latim de Bento XVI, mas Francisco optou por falar em italiano, em 2013.

A intervenção apresentou Jesus Cristo como “modelo de humanidade santa”, que todos pode imitar, juntamente com “a promessa de um destino eterno”.

Partindo da uma passagem do Evangelho segundo São Mateus, em que o apóstolo Pedro diz a Jesus “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”, Leão XIV falou do “dom de Deus e o caminho a percorrer para se deixar transformar, dimensões inseparáveis da salvação, confiadas à Igreja para que as anuncie a bem da humanidade”.

Deus, de modo particular, chamando-me através do vosso voto a suceder ao primeiro dos Apóstolos, confia-me este tesouro para que, com a sua ajuda, eu seja seu fiel administrador em benefício de todo o Corpo místico da Igreja; para que ela seja cada vez mais cidade colocada sobre o monte, arca de salvação que navega sobre as ondas da história, farol que ilumina as noites do mundo”.

 

Na Eucaristia, transmitida pelo do Vaticano, o novo Papa falou do “tesouro” que a Igreja “aprofunda e transmite há dois mil anos”, através da sucessão dos apóstolos.

Leão XIV convidou todos a repetir ‘Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo’: “Digo isto, em primeiro lugar, para mim mesmo, como Sucessor de Pedro, ao iniciar a minha missão de Bispo da Igreja que está em Roma, chamada a presidir na caridade à Igreja universal, segundo a célebre expressão de Santo Inácio de Antioquia”.

A intervenção identificou um “compromisso irrenunciável” para quem, na Igreja, exerce um ministério de autoridade: “Desaparecer para que Cristo permaneça, fazer-se pequeno para que Ele seja conhecido e glorificado, gastar-se até ao limite para que a ninguém falte a oportunidade de o conhecer e amar”.

“Que Deus me dê esta graça, hoje e sempre, com a ajuda da terna intercessão de Maria, Mãe da Igreja”, concluiu.

No início da homilia, Leão XIV quis deixar uma palavra em inglês, citando o Salmo que foi proclamado na Missa, em que se agradeceu a Deus pelas suas “maravilhas”.

“Não apenas comigo, mas com todos nós, meus irmãos cardeais. ao celebramos esta manhã, convido-vos a reconhecer as maravilhas que o Senhor fez, as bênçãos que o Senhor continua a derramar sobre todos nós”, disse.

Chamaram-me ao ministério de Pedro, para carregar essa cruz e ser abençoado por essa missão e sei que posso confiar em cada um e em todos para caminhar comigo, ao prosseguirmos como Igreja, como comunidade de amigos de Jesus, de crentes, a anunciar a Boa Nova, a anunciar o Evangelho para continuar a evangelização”.

Como acontece desde 2022, por decisão de Francisco, o espaço contou com a colocação excecional de um altar alguns metros diante da representação do Juízo Final, de Michelangelo, em vez do antigo altar colocado sob a mesma – que levava o presidente a celebrar ‘versus Deum’ e não de frente para a assembleia.

A Missa, em latim, com momentos em inglês, italiano e inglês, teve duas mulheres a proclamar as leituras antes do Evangelho.

No final da celebração, Leão XIV passou entre os cardeias e foi aplaudido pelos participantes, até à saída da Capela Sistina.

O cardeal Robert Francis Prevost, prefeito do Dicastério para os Bispos, foi eleito esta quinta-feira como Papa, após dois dias de Conclave, assumindo o nome de Leão XIV.

O primeiro pontífice norte-americano, de 69 anos de idade, foi missionário e bispo no Peru, tendo ainda sido superior geral da Ordem de Santo Agostinho.

OC

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