Vaticano: Justiça continua investigação sobre caso de fugas do documento

Sentença do julgamento de ex-mordomo do Papa, condenado por «furto agravado», foi tornada pública

Cidade do Vaticano, 23 out 2012 (Ecclesia) – O Vaticano vai manter a investigação sobre o caso de fuga de documentos do Papa, para determinar se há outros crimes para além dos que foram imputados ao ex-mordomo de Bento XVI, Paolo Gabriele.

“Novas investigações estão em andamento sobre a subsistência de outras eventuais responsabilidades na fuga de documentos confidenciais”, revela a sentença do Tribunal do Estado da Cidade do Vaticano sobre o caso de Gabriele, divulgada hoje aos jornalistas acreditados pela Santa Sé.

O documento diz, no entanto, que “não há provas de cumplicidade e conivência” de outras pessoas, para além das que já foram acusadas, nos atos atribuídos a Paolo Gabriele, principal acusado no chamado ‘vatileaks’ e condenado a 18 meses de prisão por furto agravado.

O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, adiantou neste contexto que o julgamento de Claudio Sciarpelletti, técnico informático acusado de “favorecimento”, vai continuar a 5 de novembro.

Segundo os juízes, o ex-mordomo lucrou com a substração dos documentos reservados de Bento XVI, um ganho “não económico, talvez, mas certamente intelectual e moral”.

Gabriele, de 46 anos, foi condenado no dia 6 deste mês a três anos de prisão, mas a sentença foi reduzida a 18 meses dada a existência de atenuantes, como a confissão de “ter traído a confiança do Santo Padre”.

“O caráter reprovável da ação executada pelo acusado está no facto de se ter servido de uma posição singularíssima [enquanto mordomo] para perpetrar a sua ação criminosa”, pode ler-se.

A sentença revela que o tribunal não acolheu o pedido de que a Comissão Cardinalícia, instituída por Bento XVI para investigar o mesmo caso, chamasse os cardeais Ivan Dias e Georges Marie Martin Cottier, por considerar que isso extravasava as suas competências.

O julgamento de Paolo Gabriele decorreu de 29 de setembro a 6 de outubro e, além do acusado, foram ouvidos como testemunhas o secretário particular de Bento XVI, monsenhor Georg Gaenswein; os polícias Giuseppe Pesce, Costanzo Alessandrini, Luca Cintia, Stefano De Santis, Silvano Carli, Luca Bassetti; a leiga consagrada Cristina Cernetti, uma das quatro mulheres responsáveis pelo apartamento do Papa.

O ex-mordomo confessou, em tribunal, que começou a recolher e fotocopiar documentos aquando do “caso de monsenhor Viganò”, sobre alegadas situações de corrupção na administração da Santa Sé, em janeiro deste ano.

D. Carlo Maria Viganò, secretário-geral do Governatorato do Estado da Cidade do Vaticano entre julho de 2009 e outubro de 2011, foi nomeado núncio [embaixador] nos Estados Unidos da América.

A sentença do Tribunal do Vaticano diz que o depoimento de Paolo Gabriele apresenta “algumas contradições”, a este respeito, mas que a “substância dos factos” pelos quais foi julgado foi confirmada pelos “testemunhos ouvidos” e outros elementos de prova recolhidos.

Os juízes sustentam que o acusado tinha “capacidade de entender a ilicitude do seu comportamento”.

O documento mostra que em maio deste ano houve uma “reunião da família pontifícia”, na qual monsenhor Gaenswein teria acusado “explicitamente” o ex-mordomo de ser responsável pela fuga de documentos.

Gabriele, que se encontra em prisão domiciliária e vai cumprir a pena numa cela do Vaticano, caso o Promotor de Justiça não recorra da sentença, confessaria, na fase inicial do processo, que queria provocar um “choque, também mediático” e que o fazia em favor da Igreja Católica por inspiração do “Espírito Santo”.

OC

Notícia atualizada às 11h14

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