Vaticano: Jesuítas vão ter de se habituar a «servir» Papa da Companhia

Antigo provincial português afirma que os maiores desafios do pontificado estão «fora da Cúria Romana»

Roma, 14 mar 2013 (Ecclesia) – O antigo provincial dos Jesuítas em Portugal admitiu hoje que a Companhia de Jesus vai ter de se “habituar” a servir um Papa que se formou e cresceu no seio da congregação.

“Os próprios jesuítas vão ter de ser habituar a esta ideia de servir o Romano Pontífice, que agora está ao serviço de toda a Igreja, sendo jesuíta”, afirmou à Agência ECCLESIA o padre Nuno Gonçalves, atual diretor da Faculdade de História e Bens Culturais da Igreja da Pontifícia Universidade Gregoriana.

O responsável explica que os jesuítas, no final da sua formação, fazem a promessa de não aceitar cargos na Igreja.

“Santo Inácio colocou esta promessa na Constituição da Companhia para garantir o que é específico dos jesuítas”, ou seja a mobilidade e a capacidade de “estar sempre livre para qualquer missão sendo ela onde for”.

Mas o próprio fundador da Congregação admitiu exceções, como foi o caso do Patriarca da Etiópia, D. Nunes Barreto [D. João Nunes Barreto S.J. (1517 — 22 de dezembro de 1562), bispo jesuíta português], ordenado em contexto de missão “onde a Igreja se estava a implantar e a crescer”.

O cardeal Jorge Mario Bergoglio, durante muitos anos bispo de Buenos Aires, na Argentina, “adquiriu uma grande experiência pastoral e, certamente estava preparado, com a assistência do Espirito Santo, para poder aceitar e desempenhar este cargo”, resumiu o jesuíta português que diz nunca ter privado com o atual Papa.

Sobre a eleição o professor afirma ter sido “surpreendente e emocionante” ao colocar na cadeira de Pedro um homem que “veio de longe mostrando uma grande simplicidade e afetividade. Desde o primeiro momento nos conquistou”.

A característica da simplicidade, “predominantemente evangélica”, é a que “mais atrai pessoas, tal como a pobreza”, explica o jesuíta que acredita ser desta forma que o Papa Francisco vai “estar presente no mundo”.

Sobre os desafios que o pontificado irá encontrar o padre Nuno Gonçalves diz estarem fora da Cúria Romana.

“Os grandes problemas da Igreja estão para lá da Cúria: a inculturação da fé, anunciar o Evangelho num mundo secularizado, a universalidade da mensagem cristã em situações muito diferentes”, enumera, sem esconder “dramatismo” e dificuldades no interior da Igreja.

“Sabemos que há problemas na Cúria Romana, mas também sabemos que a maior parte das pessoas que lá trabalham têm boa vontade e fazem-no ao serviço do Santo Padre”, frisa, acreditando que as estruturas se adaptam à “personalidade de cada Papa”.

Francisco “olhará para estes grandes desafios” e “saberá ajudar a Cúria a adaptar-se à sua personalidade, fazendo as modificações de estrutura e de pessoas que considerar necessárias”.

O superior geral da Companhia de Jesus, o padre Adolfo Nicolás, reagiu à eleição de Jorge Mario Bergoglio para sucessor de Bento XVI agradecendo a “generosidade da aceitação da responsabilidade de guiar a Igreja neste tempo crucial” e a “disponibilidade renovada” de obediência ao Papa.

 “O nome «Francisco» que o Santo Padre adotou evoca em nós o seu espírito evangélico e de proximidade aos pobres, a sua identificação com pessoas simples e o seu compromisso com a renovação da Igreja”, exprimiu num comunicado publicado no sítio da Companhia, sublinhando ainda a “visível simplicidade”, a “humildade” e a “sua experiência pastoral e profundidade espiritual”.

PR/LS

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