Primeira constituição conciliar pretendeu conduzir à «participação ativa e consciente» dos fiéis nas celebrações, diz bispo de Bragança-Miranda
Lisboa, 29 out 2011 (Ecclesia) – A primeira constituição do Concílio Vaticano II (1962-1965), sobre a restruturação das celebrações litúrgicas católicas, foi bem recebida mas causou desentendimentos na Igreja e perdeu o ímpeto inicial, considera o bispo de Bragança-Miranda.
“A reforma litúrgica” expressa no documento ‘Sacrosanctum Concilium’ (‘O sagrado Concílio’), de 4 de dezembro de 1963, “suscitou incompreensões e pôs a claro várias formas de incoerência”, assinala D. José Cordeiro, em artigo publicado na edição de hoje do semanário ECCLESIA.
O “movimento litúrgico” que nas décadas anteriores preparou o terreno para a renovação conciliar, através de “reformas lentas e amadurecidas”, também “não aconteceu na paz”, tendo provocado “discussões” e “ataques”, com bispos “céticos” a manifestarem “muitas reservas”, refere o doutorado em liturgia pelo Pontifício Ateneu de Santo Anselmo, de Roma.
O bispo de 44 anos nota que a liturgia viveu, depois dos primeiros anos da reforma do Vaticano II, “uma fase de crise, dominada pela perda de entusiasmo, desencantada por não obter rapidamente os resultados que se esperavam em relação aos generosos esforços iniciais”.
“Os grandes princípios da renovação” foram “aumentar a vida cristã”, “adaptar as instituições eclesiais” aos tempos atuais, “promover a união dos cristãos (ecumenismo)”, propor a todas as pessoas “o convite de entrar na Igreja” e “realizar a nobre simplicidade e a clareza na brevidade dos ritos”, explica.
O consultor da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, do Vaticano, sustenta que a reestruturação “não pode limitar-se às cerimónias, aos ritos ou aos textos”, mas deve conduzir à “tão desejada participação ativa e consciente” dos fiéis nas celebrações, “felizmente aumentada depois do Concílio”.
“O sujeito da ação litúrgica é o povo de Deus”, realça o vogal da Comissão da Liturgia e Espiritualidade do episcopado português, que destaca como frutos da reforma “a valorização das Igrejas locais” e a “recentralização da Palavra de Deus [Bíblia] na liturgia”.
Em Portugal, o início do Movimento Litúrgico “pode datar-se no I Congresso Litúrgico Português, realizado em Vila Real de 17 a 19 de junho de 1926”, com o mosteiro de Singeverga e o Seminário Maior dos Olivais, em Lisboa, a assumirem-se como “centros importantes” da renovação.
Depois da encíclica “Mediator Dei”, assinada em 1947 pelo Papa Pio XII, “considerada a ‘Magna Carta do Movimento litúrgico’”, a etapa decisiva na reforma foi o Vaticano II, o primeiro concílio ecuménico a “tratar colegialmente o tema litúrgico em geral”.
“Quando o Beato João XXIII anunciou a convocação do Concílio não estava, certamente, nos seus pensamentos o tema litúrgico”, mas “cerca de 20%” das respostas aos inquéritos sobre as questões a abordar na assembleia “referiam-se à liturgia”, o que para D. José Cordeiro era “sinal do desejo de uma renovação”.
Em 1985, aquando do sínodo extraordinário dos bispos sobre o balanço dos 20 anos do Vaticano II, os participantes afirmaram que “a renovação litúrgica é o fruto mais visível de toda a obra conciliar”, e embora “tenha havido algumas dificuldades, em geral ela foi acolhida pelos fiéis com alegria e com fruto”.
RJM