Bispos de Aveiro e Macau contrapunham avanços tecnológicos à falta de progresso moral a meio do século XX
Lisboa, 13 dez 2011 (Ecclesia) – A convocação do II Concílio Ecuménico do Vaticano pelo Papa João XXIII, em finais de 1961, levou vários bispos portugueses a escreverem aos católicos das suas dioceses sobre os desafios da Igreja e da sociedade, numa “era nova”.
Uma semana antes da sua morte, a 21 de janeiro de 1962, o bispo de Aveiro, D. Domingos da Apresentação Fernandes, publicou uma nota, falando em “tempos conturbados e cheios de apreensão que desorientam a humanidade contemporânea”, contrastando com a realidade eclesial.
“A Santa Igreja prepara-se com serenidade e confiança para um dos maiores acontecimentos da sua existência duas vezes milenária”, podia ler-se no documento, hoje citado pelo semanário Agência ECCLESIA, na secção sobre os 50 anos de convocação do Concílio Vaticano II (1962-1965).
Para o prelado, “situando-se no momento histórico verdadeiramente dramático para todo o mundo”, o anúncio de João XXIII manifestava “confiança na ação da Igreja em face dos problemas angustiosos que se deparam por toda a parte”.
“Enquanto a humanidade se encontra na viragem de uma era nova, tarefas de gravidade e amplitude imensas esperam a Igreja, como nas épocas mais trágicas da sua história”, escrevia D. Domingos da Apresentação Fernandes.
O falecido bispo de Aveiro deixava um alerta contra a “existência de um ateísmo militante que atua em escala mundial”, que contrapunha à “Igreja plena de vitalidade, renovada interiormente e socialmente fortalecida para todas as provações”.
A exortação apelava à oração de todos, pedindo aos padres que se explicasse aos fiéis do que é o Concílio e apelando a reuniões de estudo sobre os problemas da unidade da Igreja, a serem feitas pelos organismos da Ação Católica.
Em Macau, D. Paulo José Tavares comentava o “grave estado de indigência espiritual do mundo”, insistindo na ideia de que as suas “descobertas maravilhosas não são acompanhadas de igual progresso moral e religioso”.
O prelado, natural dos Açores, apelava à preparação para o Concílio: “Os seus frutos na nossa Diocese hão de depender da maneira como nos dispusermos desde já o aceitar, com fé e docilidade, as suas decisões e normas”.
“Demos a Macau um novo vulto, neste ano jubilar do Concilio Vaticano II. Intensifiquemos a atividade missionária nas paróquias e nas escolas, trabalhando mais em profundidade no ministério da palavra e no ensino da doutrina cristã”, pedia.
Entre outras iniciativas, o falecido bispo de Macau determinou que em todas as escolas, nas aulas de Religião, fossem dadas “algumas lições sobre os Concílios Ecuménicos e o que eles representam para a vida da Igreja”.
OC