Vaticano: Igreja nunca pode «pôr condições à misericórdia» – Papa Francisco

Nova Carta apostólica sublinha importância de dar continuidade à dinâmica do Jubileu

Cidade do Vaticano, 21 nov 2016 (Ecclesia) – O Papa publicou hoje uma nova carta apostólica, um dia após o final do Ano Santo extraordinário, na qual defende que a Igreja Católica nunca pode “pôr condições” à misericórdia de Deus.

“Nada do que um pecador arrependido coloque diante da misericórdia de Deus pode ficar sem o abraço do seu perdão. É por este motivo que nenhum de nós pode pôr condições à misericórdia; esta permanece sempre um ato de gratuidade do Pai celeste, um amor incondicional e não merecido”, escreve Francisco, num documento intitulado ‘Misericórdia e mísera’.

O documento alerta para a necessidade de respeitar a “plena liberdade do amor” com que Deus entra na vida de cada pessoa e sublinha que “mesmo nos casos mais complexos”, onde há a tentação de fazer prevalecer uma justiça que deriva apenas das “normas” é preciso acreditar “na força que brota da graça divina”.

“Deus não põe qualquer barreira a quantos O procuram de coração arrependido, mas vai ao encontro de todos como um Pai”, insiste o Papa.

“Misericórdia e mísera” (Misericordia et misera), o título da carta apostólica, são as duas palavras que Santo Agostinho utiliza para descrever o encontro de Jesus com a adúltera, relatado pelos Evangelhos, recordando que esta, à luz da lei do seu tempo, poderia ser apedrejada até à morte.

O episódio é escolhido pelo pontífice argentino como a imagem do Jubileu da Misericórdia, que os católicos de todo o mundo viveram entre dezembro de 2015 e novembro deste ano, contestando uma visão centrada na “lei e a justiça legal”.

“Não há lei nem preceito que possa impedir a Deus de reabraçar o filho que regressa a Ele reconhecendo que errou, mas decidido a começar de novo. Deter-se apenas na lei equivale a invalidar a fé e a misericórdia divina”, refere o Papa.

Francisco considera que este ano santo foi um “um tempo rico em misericórdia”, uma dimensão que deve continuar a ser “celebrada e vivida”.

“A misericórdia não se pode reduzir a um parêntese na vida da Igreja, mas constitui a sua própria existência, que torna visível e palpável a verdade profunda do Evangelho. Tudo se revela na misericórdia; tudo se compendia no amor misericordioso do Pai”, explica.

O documento sublinha a importância do perdão e apresenta a misericórdia como uma “ação concreta” que, no amor e no ato de perdoar, consegue mudar vidas.

“Como é triste quando ficamos fechados em nós mesmos, incapazes de perdoar! Prevalecem o ressentimento, a ira, a vingança, tornando a vida infeliz e frustrando o jubiloso compromisso pela misericórdia”, adverte.

Após um “ano intenso”, o Papa aponta ao futuro, para sublinhar a necessidade de continuar a “celebrar a misericórdia”, a começar pela Liturgia e a oração, num “verdadeiro diálogo entre Deus e o seu povo”.

“Termina o Jubileu e fecha-se a Porta Santa. Mas a porta da misericórdia do nosso coração permanece sempre aberta de par em par”, pode ler-se.

A carta apostólica ‘Misericordia et misera’ foi assinada publicamente este domingo, na Praça de São Pedro, após o final da Missa que encerrou o Jubileu da Misericórdia, 29.º Ano Santo na história da Igreja Católica.

OC

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Agência ECCLESIA

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