Professora universitária destaca que fez uma «democratização» para «dar o papel e o lugar nas vozes da Igreja a todos os cristãos»

Lisboa, 08 mai 2025 (Ecclesia) – Teresa Messias, docente da Faculdade de Teologia da UCP em Lisboa, destaca que o Papa Francisco “procurou muito que a Igreja se descentrasse”, sublinhando que os cardeais eleitores no atual Conclave, provenientes de 70 países, não são “periferia da Igreja”.
“Não considero que esses cardeais que vêm dos 70 países, e que vêm de zonas muito afastadas da Europa, sejam da periferia da Igreja, porque isso significaria uma mentalidade que o Papa Francisco contrariou de colocar Roma como umbigo da Igreja ou um centro eclesiástico”, disse à Agência ECCLESIA.
Teresa Messias destaca que o Papa Francisco promoveu esse descentramento da Igreja nas suas formas de pastoral, “na sua forma de pensar” e até dando às Conferências Episcopais “bastante autonomia para produzirem determinada legislação”, que lhe “criou alguns problemas”.
“Ele nunca viu as Igrejas fora de Roma, ou as Conferências Episcopais dos respetivos continentes e zonas em que estão distribuídas, como periferias”, sublinhou.
O Papa Francisco, num pontificado entre março de 2013 e abril de 2025, convocou dez consistórios e criou 163 cardeais, dos cinco continentes.
“O facto de ele ter tido este interesse, e este cuidado, em trazer a representação cultural de todas as diversidades culturais, sobretudo onde há católicos, e onde há católicos que por vezes estavam sub-representados, porque ao não ter um cardeal ou não ter determinadas pessoas a servir na Cúria dessa cultura, provavelmente na sua forma de pensar, a sua sensibilidade seria menos representada e menos participativa nos diálogos que depois originam certas decisões”, desenvolveu a professora universitária.
Segundo Teresa Messias, o Papa fez uma “democratização”, no sentido de “dar o papel e o lugar nas vozes da Igreja” a todos os cristãos, para que todas as culturas sejam representadas, e isso vai gerar uma “grande necessidade de consenso, uma grande necessidade de diálogo e uma grande necessidade de equilíbrios”.
A entrevistada, que durante uns anos lecionou em Macau, salienta que a maneira de pensar europeia “é muito diferente das sensibilidades, por exemplo, do Oriente”, e ao levar essas vozes para “as grandes discussões da Igreja, para as grandes opções da Igreja”, o Papa Francisco, na sua opinião, ouviu “o que o Espírito diz às Igrejas”.
“As sensibilidades das Igrejas do Oriente, por exemplo, mesmo se já têm grandes impactos da cultura ocidental pelo fenómeno da globalização, têm sempre depois um núcleo que é muito próprio e muito deles; então, há que ouvir verdadeiramente o que é que o Espírito está a fazer dentro dessas Igrejas, que são Igrejas com tanto valor e com tanta importância, como qualquer outra”, acrescentou a docente da UCP, doutorada em Teologia Espiritual.
A entrevista com Teresa Messias, de análise e comentário ao pontificado de Francisco, foi gravada esta quarta-feira, antes dos cardeais entrarem na Capela Sistina, e vai estar no centro da emissão do Programa ECCLESIA, a 11 de maio, na Antena 1 da rádio pública.
OC/CB