Revista «Civiltà Cattolica» divulga conversa entre Papa e jesuítas, que abordou ainda temas polémicos do magistério atual
Roma, 24 nov 2016 (Ecclesia) – O Papa Francisco considerou que o mundo atual sofre com o desaparecimento da “grande política”, numa conversa com os jesuítas que participaram em Roma na reunião magna da Companhia de Jesus, divulgada hoje.
“Faltam aqueles grandes políticos que eram capazes de colocar-se em causa, a sério, pelos seus ideais e não temiam o diálogo nem a luta, mas seguiam em frente com inteligência”, disse, no encontro que aconteceu exatamente há um mês, na 36ª Congregação Geral dos jesuítas.
O diálogo entre o primeiro Papa jesuíta da história e os participantes na reunião aconteceu após o discurso oficial de Francisco e é transcrito na mais recente edição da revista ‘Civiltà Cattolica’.
O pontífice argentino sustenta que a “grande política” é um trabalho “artesanal” que visa a unidade dos povos, criticando, pelo contrário, a corrupção e os golpes constitucionais de quem procura ficar no poder a todo o custo.
A conversa aborda vários temas do atual magistério, como a importância da pobreza para a vida da Igreja, vista pelo Papa como um “muro” que defende as comunidades de “desastres eclesiais”.
Francisco fala da sua encíclica ‘Laudato si’ como uma “encíclica social”, rejeitando a sua classificação como “verde”, apesar das preocupações ecológicas, para sublinhar a preocupação com “a cultura do descarte das pessoas”.
O Papa abordou as várias críticas recebidas pela exortação ‘Amoris Laetitia’, que resultou das duas assembleias do Sínodo dos Bispos sobre a família, sustentando que a moral usada no documento é “tomista”, inspirando-se no “grande São Tomás de Aquino” e não numa “escolástica decadente” seguida por alguns.
O método de descer do geral para o particular, acrescenta, é o “método moral usado no Catecismo da Igreja Católica”, sem que isso implique que “o princípio deva mudar”.
O pontífice alerta para a “falta do discernimento” na formação de novos sacerdotes, que se habituaram ao “que é legal”, “preto ou branco”.
“Hoje, numa certa quantidade de seminários, voltou a instaurar-se uma rigidez que não está próxima do discernimento das situações”, lamentou, confessando que este cenário o “assusta”.
O Papa falou ainda da necessidade de valorizar as culturas locais, particularmente as indígenas, e evitar o “centralismo romano” que, no passado, bloqueou o trabalho de alguns missionários.
OC