Vaticano: Francisco aponta paz na Ucrânia e no Médio Oriente como prioridades para comunidade internacional

Discurso aos membros do corpo diplomático evocou «ameaça cada vez mais concreta de uma guerra mundial»

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 09 jan 2024 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje, num encontro com embaixadores dos cinco continentes, ao compromisso da comunidade internacional para soluções de paz na Ucrânia e no Médio Oriente, denunciando violações do direito humanitário e violência contra civis.

“O meu desejo para este ano de 2025 é que toda a comunidade internacional se esforce, antes de mais, para pôr fim à guerra que ensanguenta a martirizada Ucrânia há quase três anos e que causou um enorme número de vítimas, incluindo tantos civis”, referiu o discurso dirigido aos membros do Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé.

Francisco admitiu que se verificam “alguns sinais encorajadores”, mas sublinhou que “é necessário ainda muito trabalho no sentido de criar as condições para uma paz justa e duradoura e sarar as feridas infligidas pela agressão”.

“De igual modo, renovo o meu apelo a um cessar-fogo e à libertação dos reféns israelitas em Gaza, onde se vive uma situação humanitária muito grave e ignóbil, e apelo a que a população palestina receba toda a ajuda necessária”, indicou ainda a intervenção apresentada no tradicional encontro para os cumprimentos de Ano Novo, no Palácio Apostólico do Vaticano.

O Papa confiou a leitura do discurso a um colaborador da Secretaria de Estado do Vaticano, devido a uma constipação.

O texto assumiu a defesa da solução de dois Estados, Israel e Palestina, que convivam “em paz e segurança”, pedindo que Jerusalém seja a “cidade do encontro”, onde “cristãos, judeus e muçulmanos convivam em harmonia e respeito”.

Não podemos aceitar, de forma alguma, o bombardeamento de populações civis ou o ataque a infraestruturas necessárias para a sua sobrevivência. Não podemos aceitar ver crianças a morrer de frio porque os hospitais foram destruídos ou foi atingida a rede energética de um país”.

A reflexão, no contexto do Jubileu 2025 celebrado pela Igreja Católica, foi dedicada ao tema da “diplomacia da esperança”.

“Perante a ameaça cada vez mais concreta de uma guerra mundial, a vocação da diplomacia é favorecer o diálogo entre todos, incluindo os interlocutores considerados mais incómodos ou que não se considerariam legitimados para negociar”, indicou o Papa.

Francisco lamentou que as instituições multilaterais se mostrem incapazes de garantir a paz e a estabilidade.

“Infelizmente, começamos este ano com o mundo dilacerado por numerosos conflitos, pequenos e grandes, mais ou menos conhecidos, e também pelo recomeço de atos de terror abomináveis”, advertiu.

O discurso apontou também o dedo à desinformação e à manipulação digital, “suscitando falsas perceções da realidade e gerando um clima de suspeita que fomenta o ódio”.

184 Estados mantêm relações diplomáticas plenas com a Santa Sé, a que se somam a União Europeia e a Ordem Soberana e Militar de Malta.

Perante representantes destes países, Francisco considerou “inaceitável” falar de um “direito ao aborto”, por considerar que “contradiz os direitos humanos, nomeadamente o direito à vida”.

“Qualquer vida deve ser protegida, em cada um dos seus momentos, desde a conceção até à morte natural, porque nenhuma criança é um erro nem tem culpa de existir, tal como nenhuma pessoa idosa ou doente pode ser descartada e privada de esperança”, sustentou.

A saudação inicial do encontro esteve a cargo de Georgios F. Poulides, embaixador do Chipre, decano do Corpo Diplomático.

O discurso do Papa abordou as crises políticas em Moçambique e na Venezuela, a questão migratória, o perdão de dívidas no Jubileu 2025 e a mudança política na Síria, entre outros temas.

OC

 

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