Padre Miguel de Salis, professor de eclesiologia e ecumenismo na Pontifícia Universidade da Santa Cruz
Roma, 04 jul 2020 (Ecclesia) – O sacerdote português Miguel de Salis, professor de eclesiologia e ecumenismo na Pontifícia Universidade da Santa Cruz, coordenou uma obra sobre “os desafios da reforma missionária” proposta pelo Papa, com docentes de várias insitituições académicas de Roma.
O livro ‘Popolo Evangelizzatore. Il capitolo II della Lumen gentium, letto alla luce dell’Evangelii gaudium” (Povo evangelizador. O capítulo II da Lumen Gentium lido à luz da Evangelii Gaudium) foi editadao pela Livraria do Vaticano e destacado pelo jornal da Santa Sé.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o padre Miguel de Salis sustenta que “se a Teologia quer ser relevante na sociedade atual e dar uma contribuição para o progresso do conhecimento, tem de fazer mais trabalho de grupo”.
A obra une o sacerdote português e Philip Goyret, da Argentina; Pilar Río, do Chile; Giovanni Tangorra, italiano; Sandra Mazzolini, também italiana; e Aimable Musoni, do Ruanda, oriundos de quatro universidades pontifícias diferentes (Lateranense, Salesiana, Santa Cruz e Urbaniana).
“Penso que o livro agora publicado dá uma resposta metodológica ao pedido de sinodalidade do Papa: é possível fazermos teologia juntos, num trabalho de grupo”, assinala o coordenador da publicação.
“Nós, os portugueses, temos a vantagem de conseguir pôr pessoas de vários países a trabalhar juntos, digamos que jogamos com vantagem, e é bom pôr esse nosso talento ao serviço da missão da Igreja”, acrescenta.
Para o professor de eclesiologia e ecumenismo, é preciso ler a reforma proposta pelo Papa Francisco para lá das “medidas pontuais, práticas”.
“Algumas pessoas fizeram um discurso centrado nessas medidas. Mas nós sabíamos que qualquer reforma se arrisca a errar o alvo se é levada para diante sem uma mudança de visão nas pessoas que a devem sofrer ou fazer”, assinala.
Os autores envolvidos assumem o desafio de fazer uma” eclesiologia missionária”, procurando “contribuir na reflexão, dar espiritualidade e coração aos agentes das reformas e àqueles que vão beneficiar dos seus frutos”.
O padre Miguel de Salis aponta a “pressa e a falta de vida no Espírito Santo” como os maiores inimigos desta reforma missionária, que também tem de responder ao impacto da pandemia.
Para o especialista, seria um erro pensar que tudo se resolve com a reforma da Cúria Romana, do Sínodo dos Bispos ou do Direito Canónico, convidando a assumir a “margem de incerteza” que existe na vida humana.
“É preciso esperar pelos frutos, que não vêm imediatamente. É preciso discernir se os resultados do esforço são bons, ou é preciso voltar a tentar doutra forma”, precisa.
“A missão transcende a sinodalidade e vai continuar a inspirar outras reformas”, assinala ainda.
O docente univeristário destaca, por outro lado, o papel de várias entidades e figuras portuguesas que trabalham em Roma, com os contributos próprios da teologia, literatura, música, cultura e história do próprio país.
O padre Miguel de Salis entende que, hoje em dia, “a universalidade de experiências vem mais de Roma para Portugal do que no sentido contrário”, com exceção de Fátima, que transcende as fronteias nacionais e tem relação direta “com muitos aspectos da vida da Igreja no mundo”.
OC