Francisco associa-se a reflexão da Academia Pontifícia para a Vida sobre crise gerada pelas guerras, alterações climáticas, epidemias e fenómenos migratórios
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Cidade do Vaticano, 03 mar 2025 (Ecclesia) – O Papa lançou um alerta, desde o Hospital Gemelli, onde se encontra internado, contra a “desregulamentação planetária utilitarista e neoliberal”, que coloca na origem de várias crises globais.
“A nossa maneira de entender a ‘criação contínua’ precisa de ser reformulada, sabendo que não é a tecnocracia que nos salvará: ceder à desregulamentação planetária utilitarista e neoliberal significa impor a lei do mais forte como única regra; e é uma lei que desumaniza”, escreve Francisco, numa mensagem dirigida à Assembleia Geral da Academia Pontifícia para a Vida (Santa Sé).
O encontro deste organismo tem como tema ‘O fim do mundo? Crises, responsabilidades, esperanças’, decorrendo entre hoje e quarta-feira, em Roma.
A mensagem apela ao reforço de um “multilateralismo que não dependa da evolução das circunstâncias políticas ou dos interesses de alguns e que tenha uma eficácia estável”.
“Esta é uma tarefa urgente que diz respeito a toda a humanidade”, insiste o pontífice.
Infelizmente, temos de constatar uma progressiva irrelevância dos organismos internacionais, que também estão a ser minados por atitudes míopes preocupadas com a proteção de interesses particulares e nacionais”.
O Papa destaca, as várias crises que afetam o planeta e a humanidade.
“O termo ‘policrise’ evoca a natureza dramática da conjuntura histórica que vivemos atualmente, na qual convergem guerras, alterações climáticas, problemas energéticos, epidemias, fenómenos migratórios e inovação tecnológica”, explica.
Francisco evoca a pandemia da Covid-19, declarada há cinco anos, considerando que se poderia “ter trabalhado mais na transformação das consciências e das práticas sociais”, a partir dessa experiência.
Olhando para a experiência sinodal vivida na Igreja desde 2021, o Papa realça também a importância da “escuta”.
“No encontro com as pessoas e as suas histórias, e na escuta do conhecimento científico, apercebemo-nos de quanto os nossos parâmetros em relação à antropologia e às culturas necessitam de uma profunda revisão”, escreve.
A reflexão sublinha a “estreita ligação com todo o sistema dos seres vivos”, que se vem aprofundando nas várias interpretações do universo e da sua evolução, apontando a sinais de “esperança”.
“É também por causa desta dimensão comunitária da esperança, face a uma crise complexa e planetária, que somos exortados a valorizar os instrumentos de alcance global”, acrescenta.
A mensagem foi assinada a 26 de fevereiro, na segunda semana de internamento do Papa Francisco, que continua a recuperar de problemas respiratórios, no 10.º andar do Hospital Gemelli, em Roma.
OC