«Vidas demasiado breves» é o denominador comum para quase 220 milhões de menores em todo o mundo Mais de 218 milhões de menores estão empregados um pouco por todo o mundo, em trabalhos que os ocupam de manhã à noite, em troca de uma remuneração irrisória e sem nenhuma protecção, roubando-lhes a infância. Dentro das próprias casas, em fábricas, nos campos ou nas minas, as crianças são exploradas sobretudo nos países menos desenvolvidos, mas este flagelo não poupa os países mais ricos do Ocidente. A questão preocupa seriamente o Vaticano que, através da Agência Fides, publicou um especial de informação sobre o tema. Estes menores têm, como refere a agência da Congregação para a Evangelização dos Povos, uma “vida demasiado breve” e perdem qualquer oportunidade de investirem na sua instrução escolar. “Em muitos países, o trabalho infantil é proibido por lei, mas isso não impede que muitas crianças trabalhem até 10 horas por dia, em vez de irem à escola”, pode ler-se. Na Índia, refere o relatório, há vários anos existem companhias internacionais que exploram as minas do distrito de Bellary e procuram trabalhadores entre as faixas mais pobres da população, “muitos deles crianças”. A Fides assinala que cerca de metade dos trabalhadores serão mesmo menores, num total que poderia chegar aos 200 mil. De acordo com o último relatório da Organização Internacional de Trabalho, apresentado em Maio do ano passado, em 2004 havia ainda 218 milhões de crianças presas ao trabalho infantil em todo o mundo, das quais 126 milhões realizavam trabalhos perigosos. A Ásia é o continente com mais crianças trabalhadoras: 122,3 milhões, menos cinco milhões do que em 2000; na África subsahariana há 49,3 milhões, mais 1,3 milhões do que em 2000; o que, em termos de população total, faz com que haja uma prevalência de 26,4 por cento, a mais elevada do mundo. Exploração O relatório da Fides chama a atenção para o grande número de crianças que começa a trabalhar logo aos 5 anos, seja nos trabalhos domésticos, seja noutros bem mais perigosos, como a extracção de minerais ou nas indústrias química e têxtil “As suas mãos são preciosas, porque são pequenas e chegam onde as dos adultos não chegariam”, constata o documento. Os fósforos e os fogos-de-artifício são alguns dos produtos que requerem esta perícia especial. Grande parte dos menores, contudo, está a trabalhar na agricultura, com a sua família. Nos centros urbanos, são muitas vezes bares e restaurantes a acolher estas crianças em busca de uma ajuda para equilibrar os pequenos orçamentos familiares. “Nem sequer têm uma hora para dedicar àquilo que seria seu por direito, isto é, uma instrução e uma infância serena”, lamenta a Fides. O drama de quem trabalha para devolver estas crianças à escola é que, muitas vezes, são as próprias a pedirem o regresso ao seu posto de trabalho anterior: “ali, pelo menos, têm um rendimento diário, mesmo que mínimo, algo que a instrução não lhes garante”.