Cardeal Gianfranco Ravasi diz que a intenção é promover um encontro de «visões» sem forçar ninguém à conversão
Lisboa, 15 nov 2012 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Pontifício da Cultura (CPC), cardeal Gianfranco Ravasi, afirmou que a criação do projeto do ‘Átrio dos Gentios’, para promover o diálogo entre crentes e não crentes, revela vontade de valorizar a “escuta”.
“Crentes e não crentes chegam com as suas razões, não simplesmente para procurar um mínimo denominador comum”, disse o membro da Cúria Romana, em entrevista ao Semanário Agência ECCLESIA, antes de acrescentar que “por isso, a escuta é fundamental”.
O responsável italiano apresentava o ‘Átrio dos Gentios’, que vai decorrer Guimarães e Braga entre sexta-feira e sábado, após um percurso iniciado em 2011 que já passou por várias cidades europeias.
Segundo o cardeal Ravasi, o projeto tem sido um “espaço de diálogo entre crentes e não crentes sobre os grandes temas: a verdade, a justiça, o direito, a arte, o amor, a morte, a palavra sagrada das tradições religiosas, a transcendência, a ciência, o mal, a dor”.
A Igreja Católica, precisou, não pretende promover uma iniciativa de evangelização ou forçar ninguém à conversão: “Entendo que ambos, crentes e não crentes, não se reúnem no ‘Átrio dos Gentios’ para informar, simplesmente, porque a mensagem que têm é apresentada com ardor, é uma mensagem performativa”.
“Não fazemos um congresso, apresentamos valores e eles, como tal, têm uma carga de convicções, os não crentes têm razões que nos fazem pensar, vividas com intensidade. É por isso que digo que não é evangelização, mas também não é um congresso temático, é um encontro de visões, de conceções”, referiu o presidente do CPC.
Para o futuro, o projeto vai alargar as iniciativas para lá do âmbito das cidades, havendo a intenção de “promover um Átrio dos Gentios para jornalistas, para músicos, para o cinema”.
A denominação vem do judaísmo e nasce antes de Jesus Cristo: cerca do ano 20 a.C., o rei Herodes deu início a grandes trabalhos de renovação do segundo templo de Jerusalém, no qual foi preparado um espaço no qual todos podiam entrar, judeus ou não.
Este era o átrio dos gentios ou dos pagãos, sem distinções de cultura, língua ou credo religioso, um lugar de encontro e de diversidade que inspirou o Conselho Pontifício da Cultura a promover “um espaço no qual todos podem entrar e participar na busca do Deus desconhecido”.
A iniciativa que vai decorrer nas cidades de Guimarães e Braga, respetivamente capitais europeias da cultura e da juventude no ano de 2012, vai ter como tema central ‘O Valor da Vida’ e é organizada pelo Instituto de História e Arte Cristãs da Arquidiocese de Braga, em articulação com o CPC.
O comentador e professor univeristário Marcelo Rebelo de Sousa, o neurocirurgião João Lobo Antunes e o cardeal Gianfranco Ravasi vão intervir no primeiro dia do encontro.
OC