Vaticano contraria tese da «mulher» de Jesus

Texto divulgado por estudiosa norte-americana visto como falsificação sem relevância sobre a figura histórica de Cristo

Cidade do Vaticano, 28 set 2012 (Ecclesia) – O jornal do Vaticano apresenta hoje uma análise ao fragmento de papiro que alegadamente remontaria ao século IV, falando numa “mulher” de Jesus, contestando a sua autenticidade e relevância para a apresentação da figura história de Cristo.

“Um papiro à deriva” intitula a edição do diário, em italiano, num texto assinado por Alberto Camplani, especialista no mundo copta e professor da universidade ‘La Sapienza’, de Roma, que foi um dos organizadores do congresso em que a descoberta foi anunciada pela professora Karen King da Universidade de Harvard (Estados Unidos da América).

O fragmento em causa, que foi apresentado como sendo parte de um evangelho apócrifo, inclui a frase em copta ‘E Jesus disse-lhes: «A minha mulher» (fragmento cortado a partir daqui, ndr).

“Há razões consistentes para concluir que o papiro seja uma desajeitada contrafação (como tantas outras provenientes do Oriente próxima) que poderia estar destinada à venda, por parte de um privado”, refere o diretor do jornal do Vaticano, Gian Maria Vian.

O jornalista destaca, a este respeito, que o anúncio da descoberta, no último dia 18, “foi preparado sem deixar nada ao acaso”, mas que esta “não tem nada a ver com a vivência histórica do cristianismo antigo e com a figura de Jesus”.

“Tudo somado, é uma falsificação”, conclui Vian, também especialista no estudo dos primeiros séculos das comunidades cristãs.

Alberto Camplani, por sua vez, critica a “deriva mediática” que se gerou após a apresentação do fragmento, sublinhando que o objeto, “ao contrário de tantos outros”, não foi descoberto em escavações, mas foi encontrado no mercado de antiguidades, além de as suas características se distanciarem de outros documentos conhecidos do séc. IV.

“É preciso adotar numerosíssimas precauções, que estabeleçam a sua fiabilidade e não excluam o caráter de contrafação”, acrescenta.

O investigador questiona ainda as “interpretações literais” do texto em causa, defendendo que a expressão devem ser “entendidas em sentido totalmente simbólico”.

OC

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Agência ECCLESIA

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