D. Jean-Marc Aveline apontou a sonho de «paz e de justiça» para o Mediterrâneo



Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 16 mai 2025 (Ecclesia) – O cardeal Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, sublinhou os desafios que se colocam à Doutrina Social da Igreja, pedindo que o Mediterrâneo dê vida ao sonho de “paz e de justiça” das suas populações.
“Os nossos medos não devem prevalecer sobre as nossas esperanças”, referiu o presidente da Conferência Episcopal Francesa (CEF), na conferência internacional promovida e organizada pela Fundação ‘Centesimus Annus – Pro Pontifice’, no Instituto Augustinianum, em Roma.
Para o arcebispo de Marselha, o Mediterrâneo apresenta-se como um “microcosmo”, no qual se concentram “muitos dos sofrimentos e das esperanças” da humanidade.
O cardeal, que participou no Conclave iniciado a 7 de maio, sublinhou o papel da Doutrina Social da Igreja (DSI), que o Papa Leão XIV quis colocar no “centro do compromisso do Evangelho”, com a escolha do seu nome – numa referência a Leão XIII, pontífice entre 1878 e 1903, autor da encíclica social ‘Rerum Novarum’.
D. Jean-Marc Aveline elencou um conjunto de princípios da DIS que se devem aplicar à região do Mediterrâneo, como o desenvolvimento integral, a defesa da dignidade do ser humano, o “destino universal” dos bens, a salvaguarda da casa comum e a unidade do género humano.
O arcebispo de Marselha alertou para a crise migratória, sustentando que as “aspirações legítimas” de muitas pessoas, em busca de uma vida melhor “não são atendidas”.
O conferencista citou o Papa Francisco para dizer que o Mediterrâneo se transformou num “cemitério”, pedindo que se combata a “indiferença”.
“Acolher um estrangeiro, que teria preferido ficar em casa, sem dúvida, não só não é um perigo, mas pode representar uma oportunidade para uns e outros”, declarou.
A intervenção alertou para a “disparidade económica” entre a Europa e países como o Líbano ou a Síria, dos mais pobres do mundo, e para o impacto da “crise ecológica”, fruto da “irresponsabilidade” do ser humano na exploração dos recursos.
O presidente da CEF evocou a “multidão de conflitos” no Mediterrâneo, em particular na Terra Santa, recordando as primeiras intervenções de Leão XIV para sublinhar que a paz precisa de ser “servida de forma concreta”.
Após propor uma teologia que parta “do Mediterrâneo”, como lugar onde se cruzam religiões, povos e culturas, D. Jean-Marc Aveline recordou que está a decorrer desde março o projeto MED 25 que, até outubro, mobiliza cerca de 200 jovens de várias culturas e religiões, divididos em oito grupos, velejando pelo Mediterrâneo, a bordo de um veleiro três mastros, ‘Bel Espoir’.
A conferência internacional no Augustinianum teve como tema ‘Superar as polarizações e reconstruir as bases éticas da governança global: rumo a uma nova Agenda para a prosperidade partilhada, a cooperação internacional e a construção da paz’.
Entre os intervenientes estiveram Scialom Bahbout, antigo rabino chefe de várias comunidades judaicas italianas, Ariela Mitri, da Cáritas da Albânia ou Recep Senturk, reitor da Faculdade de Estudos Islâmicos da Universidade Haman Bin Khalifa, em Doha.
Os trabalhos incluíram sessões paralelas dedicadas à ‘Doutrina Social Católica no Mundo e o seu Contributo para o Diálogo e a Cooperação Global’, com aprofundamentos específicos sobre África, Ásia, América Latina e os desafios éticos para o diálogo no contexto ocidental.
Na plenária em que foram apresentados os resultados destes debates foi recordado, como um “bom exemplo” o acordo de conversão de dívida entre Portugal e Cabo Verde, permitindo que uma parte do montante seja convertida em investimentos em projetos de desenvolvimento sustentável.
A conferência conclui-se com a leitura de uma mensagem dirigida aos participantes, pelo cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxemburgo.
OC