Secretário de Estado destacou centralidade de Fátima nos últimos pontificados e no futuro da Igreja
Cidade do Vaticano, 15 out 2013 (Ecclesia) – O cardeal Tarcisio Bertone despediu-se hoje do cargo de secretário de Estado do Vaticano com um discurso em defesa de Bento XVI, agora Papa emérito, que o nomeou em 2006, particularmente a respeito da luta contra a pedofilia.
“(Bento XVI) sofreu profundamente com os males que deturpam o rosto da Igreja e por isso a dotou de uma nova legislação que combate com vigor o vergonhoso fenómeno da pedofilia entre o clero, sem esquecer o lançamento de uma nova lei em matéria económica e administrativa”, declarou, numa cerimónia que decorreu na Biblioteca da Secretaria de Estado, na presença do Papa Francisco.
Segundo o cardeal Bertone, Bento XVI foi “um reformador das consciências e do clero”, acrescentando que não vê no novo Papa uma “revolução”, mas uma linha de “continuidade”, visível no “dom do conselho espontâneo e inspirado” e na “comum devoção mariana”.
“Não há imagem mais bela dos dois Papas do que a fotografia de cada um, recolhido em oração, diante da imagem de Nossa Senhora, de Nossa Senhora de Fátima – o Papa Bento (XVI) em Fátima, no ano sacerdotal de 2010, e em Roma, diante da mesma imagem, no ano da fé, o Papa Francisco – para colocar toda a Igreja em estado de penitência e de purificação”, declarou.
Para o cardeal italiano, “parece mesmo que é preciso partir de novo de Fátima”.
O secretário de Estado do Vaticano que hoje cessou funções esteve na Cova da Iria para presidir à peregrinação internacional de outubro, entre sábado e domingo.
“Alguém me disse que nesse Santuário a minha missão se concluiu com chave de ouro”, revelou.
Este responsável recordou que tinha estado em Fátima para a dedicação da Basílica da Santíssima Trindade, em 2007, pouco mais de um ano após o início do seu mandato: “Apraz-me pensar que passei estes anos sob a especial proteção de Maria”.
Passando em revista os sete anos em que liderou a Secretaria de Estado do Vaticano, o cardeal Bertone deixou elogios à paixão com que Bento XVI procurou que a Igreja se visse a si própria “como comunhão, profundamente” e, ao mesmo tempo, que fosse “capaz de falar ao mundo”.
“Cito apenas os grandes temas da relação entre fé e razão, entre direito e lei natural”, referiu, lembrando os discursos no parlamento alemão, em Londres, em Paris e as encíclicas do Papa alemão.
O antigo braço direito de Bento XVI disse que a Igreja Católica se tornou um “interlocutor procurado e apreciado” pelos fiéis de outras religiões, mesmo depois do “difícil equívoco do discurso em Ratisbona” (Alemanha), em 2006, que gerou contestação de alguns grupos islâmicos.
“E quando o Senhor inspirou, após profunda meditação e intensa oração, a decisão da renúncia, entregou o ministério petrino ao seu sucessor, vindo de longe e enviado pelo Espírito de Jesus”, acrescentou.
D. Tarcisio Bertone deixou uma palavra de gratidão ao Papa Francisco, que aceitou a sua renúncia.
“A escuta, a ternura, a misericórdia, a confiança são realidades estupendas que experimentei pessoalmente consigo, Santo Padre, na multiplicidade das conversas, nos gestos, nas surpresas dos telefonemas, nas missões que me confiou”, afirmou.
OC