Papa emérito publica carta, acompanhada por análise das questões levantadas por comissão independente em Munique
Cidade do Vaticano, 08 fev 2022 (Ecclesia) – O Papa emérito Bento XVI publicou hoje uma carta em que responde às acusações de má gestão de casos de abusos sexuais, enquanto arcebispo de Munique, pedindo perdão a todas as vítimas destas situações.
“Mais uma vez, posso apenas expressar a todas as vítimas de abusos sexuais a minha profunda vergonha, a minha grande dor e o meu sincero pedido de perdão. Tive grandes responsabilidades na Igreja Católica. Tanto maior é a minha dor pelos abusos e os erros que se verificaram durante o tempo do meu mandato nos respetivos lugares”, assinala.
“Cada caso de abuso sexual é terrível e irreparável. Para as vítimas de abusos sexuais, vai a minha profunda compaixão e lamento cada um dos casos”, acrescenta.
Um relatório independente sobre abusos sexuais na arquidiocese católica de Munique e Frisinga, na Alemanha, foi publicado a 20 de janeiro, questionando a gestão destes casos pelo então arcebispo Joseph Ratzinger, Bento XVI, durante os cinco anos em que esteve à frente dessa comunidade.
O Papa emérito respondeu às questões levantadas pela comissão com um ‘Pró-memória pessoal’ de 82 páginas, tendo sido acompanhado por uma equipa de peritos para estudar e analisar a perícia quase 2 mil páginas.
Os colaboradores de Bento XVI consideram como “falsas” todas as imputações apontadas pela comissão independente ao então arcebispo Ratzinger.
O Papa emérito admite um “lapso” a propósito da sua participação numa reunião em 15 de janeiro de 1980, lamentando que essa “distração” tivesse sido utilizada para o colocar em causa e apresentar como “mentiroso”.
A carta agradece pelas várias manifestações de apoio recebidas nas últimas semanas.
“Sinto-me particularmente agradecido pela confiança, o apoio e a oração que o Papa Francisco me expressou pessoalmente”, escreve.
O Papa emérito evoca os encontros com vítimas de abusos sexuais, nas suas viagens apostólicas, mostrando-se impressionado com as mesmas.
“Observei nos olhos as consequências de uma tão grande culpa e aprendi a compreender que nós mesmos somos arrastados por esta tão grande culpa quando a negligenciamos ou não a enfrentamos com a necessária decisão e responsabilidade, como aconteceu e acontece com muita frequência”, adverte.
Bento XVI renunciou ao pontificado em fevereiro de 2013 e vai completar 95 anos de idade, a 16 de abril.
“Em breve me encontrarei perante o último Juiz da minha vida. Embora ao olhar retrospetivamente a minha longa vida possa ter tantos motivos de susto e medo, todavia estou com o coração feliz porque confio firmemente que o Senhor não é só justo juiz, mas simultaneamente é o amigo e o irmão que já padeceu, Ele mesmo, as minhas deficiências e, consequentemente, ao mesmo tempo é juiz e meu advogado”, referiu.
“O ser cristão dá-me o conhecimento, mais ainda, a amizade com o juiz da minha vida e permite-me atravessar com confiança a porta escura da morte”, concluiu.
OC
Vaticano: Bento XVI «jamais procurou esconder o mal na Igreja», diz antigo porta-voz