Vaticano: Bento XVI realça unidade entre oração e trabalho

«Além do arrebatamento do êxtase contemplativo», exige-se a «caridade concreta, que se faz atenta a todas as necessidades dos outros»

Cidade do Vaticano, 02 Mar (Ecclesia) – O Papa sublinhou hoje a importância de unir a dimensão espiritual e o trabalho de aperfeiçoamento do mundo, ao evocar a figura de São Francisco de Sales (1567-1622).

Na audiência geral das quartas-feiras, realizada esta manhã no Vaticano, Bento XVI recordou que a vida do santo francês inspirou nos leigos o cuidado “pela consagração das coisas temporais”, a par da “santificação do quotidiano”.

Segundo o Papa, a vida do padroeiro das comunicações sociais manifesta o “ideal de uma humanidade reconciliada, na sintonia entre acção no mundo e oração, entre condição secular e procura da perfeição”.

Em 1607, Francisco de Sales publicou ‘Introdução à vida devota’, “um dos livros mais lidos na idade moderna”, onde lançou um apelo “revolucionário” para a época: “O convite a ser completamente de Deus, vivendo em plenitude a presença no mundo”.

[[v,d,1849,]]“No cume da união com Deus, além do arrebatamento do êxtase contemplativo”, coloca-se a exigência da “caridade concreta, que se faz atenta a todas as necessidades dos outros”, salientou Bento XVI.

Na “obra principal” de Francisco de Sales, ‘Tratado do amor de Deus’ (1616), o co-fundador da congregação religiosa Ordem da Visitação propõe que o amor seja “a razão de ser de todas as coisas, numa escala ascendente que não parece conhecer fracturas e abismos”.

O bispo da cidade suíça de Genebra, então um bastião do Calvinismo, foi “apóstolo, pregador, escritor, homem de acção e de oração”, tendo-se envolvido “na controvérsia e no diálogo com os protestantes”, assinalou o Papa.

Além deste “necessário confronto teológico”, o doutor da Igreja “experimentou sempre mais” a “eficácia das relações pessoais e da caridade”, que procurou aplicar nas “missões diplomáticas a nível europeu” e em tarefas de “mediação e reconciliação”.

Depois de contestada pelo pai, a vocação à vida religiosa de Francisco de Sales passou por uma “crise profunda”, que o levou a questionar a sua salvação eterna e a predestinação de Deus a seu respeito, “sofrendo como verdadeiro drama espiritual a principal questão teológica do seu tempo”, lembrou o Papa.

“Rezava intensamente, mas a dúvida atormentou-o de maneira tão forte que por algumas semanas praticamente não conseguiu comer e dormir”, acrescentou Bento XVI, para quem “Francisco de Sales é um testemunho exemplar do humanismo cristão”.

Francisco de Sales morreu aos 55 anos, depois de uma existência marcada pela “fadiga apostólica”, e que apesar de “relativamente breve” foi vivida “com grande intensidade”, ao ponto de o “influxo da sua vida e do seu ensinamento na Europa da época e dos séculos seguintes” ter sido “enorme”.

Na alocução em língua portuguesa, Bento XVI desejou que os peregrinos se dêem conta da “nostalgia de Deus”, dado que só nele é possível encontrar “a verdadeira alegria e a realização plena”.

RM

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