Vaticano: Bento XVI diz que obediência ao seu sucessor é indiscutível

Entrevista ao Papa emérito aborda relação com Francisco e explica decisão de renunciar

Roma, 24 ago 2016 (Ecclesia) – O Papa emérito Bento XVI afirma numa entrevista divulgada hoje na Itália que “nunca esteve em causa” a sua obediência a Francisco, ao qual agradece pela “benevolência” com que o tem tratado.

“A obediência ao meu sucessor nunca esteve em causa. Depois há o sentimento de comunhão fraterna e de amizade”, refere, numa entrevista publicada pelo jornal italiano ‘La Republica’.

Bento XVI conversa com Elio Guerriero, curador da edição em italiano das suas obras completas, numa entrevista que vai integrar a nova biografia do Papa emérito, ‘Servidor de Deus e da humanidade’ (Mondadori), com chegada prevista às bancas para 30 de agosto.

A obra é prefaciada pelo Papa Francisco.

O pontífice emérito considera que a eleição de um cardeal sul-americano como seu sucessor representou um convite a uma “comunhão mais extensa, mais católica”.

“Pessoalmente, fiquei profundamente sensibilizado desde o primeiro momento pela extraordinária disponibilidade humana do Papa Francisco em relação à minha pessoa. Logo depois da sua eleição procurou contactar-me telefonicamente”, revela.

Desde então, explica Bento XVI, exista uma relação “maravilhosamente paterna-fraterna”, que inclui breves cartas e visitas de Francisco.

“Aquilo que [Francisco] diz em relação à disponibilidade para com as outras pessoas não são só palavras: coloca-o em prática comigo”, assinala.

A nova biografia explica que a decisão de renunciar ao pontificado foi tomada por Bento XVI após a viagem ao México e Cuba (23 a 29 de março de 2012), na qual o agora Papa emérito disse ter experimentado “os limites” da sua resistência física.

Em perspetiva estava uma visita ao Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2013, que Bento XVI considerava não ser capaz de realizar.

“Naturalmente, falei destes problemas com o meu médico, Dr. Patrizio Polisca, e ficava claro que não estaria em condições de tomar parte na Jornada Mundial da Juventude”, relata.

Para Bento XVI, a presença de um Papa na JMJ é obrigatória, pelo que acabou por “decidir num tempo relativamente breve” a data da sua resignação [28 de fevereiro de 2013].

O Papa emérito rejeita a ideia de ter sido um homem só e sublinha que o apoio recebido se manteve após a renúncia.

“Posso apenas estar grato ao Senhor e a todos os que me exprimiram e ainda me manifestam o seu afeto”, afirma.

Além da nova biografia, vai ser publicada em setembro outra obra dedicada a Bento XVI, intitulada ‘Last Testament: In His Own Word’ (Último Testamento: nas suas próprias palavras), em que o Papa emérito percorre vários temas do seu pontificado, em colaboração com o jornalista alemão Peter Seewald.

Bento XVI anunciou a sua renúncia ao pontificado a 11 de fevereiro de 2013 e está a manter desde então uma vida de recolhimento, no Vaticano, surgindo esporadicamente em público para acompanhar cerimónias presididas por Francisco ou receber homenagens.

OC

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Agência ECCLESIA

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