Cardeal inglês, convertido do Anglicanismo, é considerado uma referência da vida eclesial no século XIX
Cidade do Vaticano, 11 out 2019 (Ecclesia) – O Papa vai canonizar a 13 de outubro o Beato John Henry Newman (1801-1890), cardeal inglês convertido do Anglicanismo, considerado como uma referência da vida eclesial no século XIX.
A decisão foi anunciada pela Santa Sé, após o Consistório Ordinário Público (reunião de cardeais) de 1 de julho a que o Papa presidiu, na Sala Clementina.
A biografia oficial divulgada hoje pelo Vaticano, no livreto da cerimónia de domingo, que vai decorrer na Praça de São Pedro a partir das 10h15 (menos uma em Lisboa), sublinha os “importantes contributos” do futuro santo para a “vida intelectual da Igreja, tanto como anglicana quanto católica”.
“Ele continua a ser uma das maiores influências no desenvolvimento do pensamento teológico católico e é considerado profético, especialmente no que diz respeito ao tema da formação adequada da consciência”, pode ler-se.
Francisco vai ainda canonizar a irmã Dulce Lopes Pontes, religiosa brasileira; Giuseppina Vannini, fundadora das Filhas de São Camilo; Maria Teresa Chiramel Mankidiyan, fundadora da Congregação das Irmãs da Sagrada Família; e Margherita Bays, da Ordem Terceira de São Francisco de Assis
O decreto que reconheceu um milagre atribuído ao cardeal inglês foi publicado a 13 de fevereiro, pelo Vaticano, após uma audiência concedida por Francisco ao cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.
John Henry Newman foi beatificado por Bento XVI a 19 de setembro de 2010, em Birmingham (Reino Unido); a sua festa litúrgica celebra-se anualmente a 9 de outubro, data que assinala a conversão do anglicanismo ao catolicismo, em 1845.
Forte influência na vida e pensamento de Joseph Ratzinger, Newman é reconhecido como um escritor, pregador e teólogo, a que James Joyce apelidava o “maior dos escritores ingleses em prosa”.
Nascido em Londres a 21 de fevereiro de 1801 e falecido a 11 de agosto de 1890, John Henry Newman foi uma das figuras principais do Movimento de Oxford, que procurava aproximar das suas raízes a Igreja Anglicana da Inglaterra, na qual era clérigo.
Após a sua conversão foi ordenado padre católico em Roma, no ano de 1847, e encorajado pelo Papa Pio IX regressou à Inglaterra, onde fundou o oratório de S. Filipe Néri.
Escritor prolífico, como recordava o Vaticano na biografia oficial da beatificação, Newman abordou diversas matérias com destaque para a relação entre fé e razão, a natureza da consciência e o desenvolvimento da doutrina cristã, obras que lhe valeram grande reconhecimento do mundo católico e que influenciaram mesmo o Concílio Vaticano II, nos anos 60 do século XX.
Em 1879, com 78 anos de idade, foi criado cardeal por Leão XIII.
A sua autobiografia espiritual “Apologia pro vita sua” (1864) é vista por muitos como a maior obra do género desde as “Confissões”, de Santo Agostinho.
Marco Bernardino, autor de uma tese em Teologia sobre o cardeal Newman, na Universidade Católica Portuguesa, sobre a “Consciência e Papel dos Leigos”, destaca a reflexão sobre fé e razão do novo santo, pioneiro no que diz respeito à valorização do laicado.
“A formação não deve ser entregue só ao clero e, portanto, os leigos também devem ter um papel preponderante”, assinalou, em declarações à Agência ECCLESIA, acrescentando a importância da fundação de uma universidade na Irlanda, como forma de preparar os leigos católicos.
A canonização, ato reservado ao Papa desde o século XIII, é a confirmação, por parte da Igreja Católica, que um fiel católico é digno de culto público universal (os beatos têm culto local) e de ser apresentado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.
OC