Vaticano admite recuos no diálogo com os anglicanos

O homem do Papa para o diálogo ecuménico, Cardeal Walter Kasper, interveio na Conferência de Lambeth para admitir que a ordenação episcopal de mulheres significará um “passo atrás” para o diálogo entre Católicos e Anglicanos. O presidente do Conselho Pontifício para a promoção da unidade dos cristãos falou na reunião magna da Comunhão Anglicana, que acontece de 10 em 10 anos, reconhecendo que “muitos estão preocupados, alguns profundamente, pela ameaça da fragmentação no seio da Comunhão Anglicana”. Nesse contexto, disse que “estamos profundamente solidários convosco”. O Cardeal alemão tocou em “duas questões que estão no centro das tensões no seio da Comunhão Anglicana e das suas relações com a Igreja Católica: a ordenação de mulheres e a sexualidade humana”. No que se refere à segunda questão, em particular a homossexualidade, o Cardeal fez o pedido aos bispos anglicanos: “À luz das tensões dos anos passados neste sentido, uma declaração clara por parte da Comunhão Anglicana ofereceria maiores possibilidades para oferecer um testemunho comum da sexualidade humana e do matrimónio, um testemunho dolorosamente necessário para o mundo de hoje”. Ponto final No que se refere à ordenação sacerdotal e episcopal de mulheres, o presidente do Conselho Pontifício para a promoção da unidade dos cristãos disse ter de “ser claro a propósito da nova situação que se criou em nossas relações ecuménicas”. “Ainda que o nosso diálogo tenha produzido um acordo significativo sobre a ideia de sacerdócio, a ordenação das mulheres para o episcopado bloqueia substancial e definitivamente um possível reconhecimento das ordenações anglicanas por parte da Igreja Católica”, esclareceu. “Desejamos a continuação de um diálogo teológico entre a Comunhão Anglicana e a Igreja Católica – assegurou –, mas este último passo mina o nosso objectivo e altera o nível do que perseguimos com o diálogo”. Segundo o Cardeal Kasper, “parece que a plena comunhão visível, como objectivo do nosso diálogo, deu um passo atrás”, pelo que agora há “objectivos menos definitivos”. “Ainda que este diálogo possa produzir ainda bons resultados, não será apoiado pelo dinamismo que resulta da possibilidade realista da unidade que Cristo exige de nós ou da participação comum na mesa do único Senhor, que anelamos com tanto ardor”, concluiu. No momento em que a Comunhão Anglicana atravessa uma crise sem precedentes, o Vaticano fez ainda saber que estuda com atenção o pedido da comunhão anglicana tradicional de se unir à Igreja Católica. Cerca de 400 mil fiéis pertencem a este ramo dissidente.

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