Vamos ultrapassar…

D. Manuel da Silva Martins, bispo emérito de Setúbal

…Até porque já ultrapassámos situações muito piores.

Estamos fartos de nos perguntarmos como foi possível chegar aqui. E ainda ninguém foi capaz de nos dar explicação correta e completa. Se tal acontecesse, de certeza que teríamos meio caminho andado para vencermos o pesadelo que nos oprime e aflige. A pedagogia e o respeito pelo povo nunca foram o forte dos nossos políticos.

Vivemos um momento particularmente grave, com metade da população sem pão na sua mesa, uma grande parte com medo de o perder e uns tantos (mesmo tantos!) a gozar com o panorama.

As nunca vistas manifestações que se sucedem por todo o reino merecem uma leitura atenta, porventura muito incómoda, até porque a todos deixam muito perplexos quanto ao caminho a escolher para sairmos do abismo.
Impressiona (e envergonha) o modo como são recebidos presidente e ministros onde quer que se desloquem. Acabam por dizer, com que custo, que a manifestação é um direito constitucional, mas o medo impede-os de acrescentar o que sentem; mas o insulto, a vaia, a malcriadez, não. Também isto tem leitura, quer de um lado quer do outro.

Quando o tempo está quente e abafado, o nosso povo pressente trovoada à porta. Vivemos um tempo de asfixia, temos dificuldade em respirar, mas que não venha a trovoada.

Para tanto, temos que descer todos a terreno, temos que acordar (“Acordai!”), sobretudo para pedirmos aos responsáveis que assumam a sua culpa e lancem mão às ferramentas da luta.

Responsáveis a todo o nível, logo a começar pelos Governantes, pela Assembleia (que Assembleia?), pelos autarcas, pelos cabeças dos partidos e pelos detentores do poder económico, aqueles que dão ordens ao mundo e ao país.

Que parem. Que olhem o povo sofredor. Que secundarizem por algum tempo interesses clubistas e que, em espírito de serviço, valham a quem não pode esperar mais.

Uma anciã do campo pediu-me há dias que rezasse uma Missa, rogando a Deus que dê juizinho aos nossos políticos. Não andará por aqui a solução.

Ande ou não ande, ela vai chegar. Assim o esperamos.  
 
D. Manuel da Silva Martins,
bispo emérito de Setúbal

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