Vamos mudar o mundo! Ainda há esperança? Começa por ti!

Padre Tomás de Albuquerque Emiliano Castel-Branco, Diocese de Lisboa

No passado dia 21 de Julho, estando de férias, lia tranquilamente o jornal Público e impactou-me muito uma notícia intitulada “Mais 73 pessoas mortas em busca de comida”. Isto deu-me que pensar porque, enquanto eu estava sossegado, estavam tantos em busca de comida chegando ao ponto de um bebé de 35 dias ter morrido de fome. Como posso ficar indiferente?

Desejamos muito mudar o nosso mundo marcado pelo individualismo e relativismo sem abertura ao diálogo, o que é perceptível, por exemplo, na ideologia de género impregnada e imposta na educação pública; pelas exclusões sociais, manifestas na forma pouco acolhedora e responsável de lidar com os imigrantes, os fetos não nascidos facilitando o aborto ou os idosos sem os suficientes e necessários apoios de cuidados paliativos, ao invés de os atender como pessoas humanas com dignidade inviolável porque criados – sem termos escolhido começar a existir – à imagem de Deus.

Estou absolutamente convencido de que a mudança para um mundo de paz passa para muitos de nós pela transformação pessoal na normalidade do dia-a-dia e deixando um bom legado social no mundo! Em que posso ser transformado nas minhas decisões diárias para contribuir mais para o Bem? O facto de em cinco anos de padre já ter feito tantos funerais de pessoas cuja morte foi inesperada, incluindo para o defunto, leva-me a pensar que devemos estar sempre preparados para que a morte não nos apanhe de surpresa. Somos criados com a possibilidade de em todos os segundos escolher o Bem ou o mal, mesmo nas decisões aparentemente pequeninas e insignificantes do dia-a-dia e isso tem impacto na nossa felicidade eterna, ou seja, na nossa união ou afastamento para sempre de Deus, depois da morte terrena, como nos mostra o próprio Jesus: «Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel em coisas de pouca monta, muito te confiarei. Entra no gozo do teu senhor» (Mt 25, 21).

Para sermos verdadeiramente felizes e deixarmos um legado na sociedade não nos esqueçamos que a nossa vida não é um mero acaso ou sucessão de acontecimentos sem sentido maior: só por estarmos vivos, desde a nossa concepção natural, somos chamados à santidade – à amizade com Deus! Cristo continua a ser hoje a única bússola fiável para a regeneração da nossa sociedade: ele é a resposta! Ninguém é feliz sozinho e sem Aquele que é a fonte da felicidade nunca o seremos plenamente (cf. Jo 15, 5)! As escolhas pessoais têm impacto na vida dos outros!

Em todos os momentos e circunstâncias, mesmo nas coisas aparentemente insignificantes e em todos os ambientes sociais, somos chamados a mudar o mundo. Não é necessário que saiamos da normalidade da nossa vida: no nosso trabalho, na nossa família, nos nossos deveres sociais. Aproveitemos para nos examinar a nós próprios, por exemplo, sobre a alegria, o bom humor, a esperança em Deus com que encaramos a vida diária e a transmitimos, a coerência das nossas acções com a fé cristã – por exemplo, no trânsito sem chamar nomes ou apitar impulsiva e desnecessariamente, no cumprimento das leis com honestidade, no trabalho bem feito até ao fim não apenas para o chefe ver, na amabilidade no trato com os mais intratáveis, não falando mal de ninguém ou sem queixume fácil do que custa! Podemos chegar aos confins do mundo, começando nós a ser muito coerentes, sabendo que nunca é tarde para recomeçar.

Para mudar o mundo como bons cristãos e honestos cidadãos é necessário que não sejamos ETs “piedosos”, mas que a vida espiritual nos leve ao compromisso social. Vale a pena investir numa boa formação com boas leituras, como por exemplo por meio do artigo publicado no Observador do Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério, sobre os critérios cristãos para lidar com a imigração[1]; ou seguindo alguma proposta na internet, como por exemplo a iniciativa Queima-te[2].

O cristão é chamado a sentir-se responsável pelos outros, não pode ser indiferente e passivo, estar confortável no seu sofá: «Vós sois o sal da terra (…). Vós sois a luz do mundo» (Mt 5, 13-14). O maior bem que podemos fazer aos outros é facilitar ativamente o seu caminho para Deus pela amizade que estabelecemos com quem convivemos. Não podemos apenas ser bons voluntários porque há muitos não católicos que fazem o bem aos outros. Ser cristão responsável no mundo é mais do que fazer apenas o bem. Se somos confrontados sobre a fé até dizemos algumas coisas sobre o amor e paz, sobre o respeito pelos outros… Mas poderá ficar a faltar o que é a fé na nossa vida? E que tal testemunhar como é bom ser filho de Deus? E que tal falar do chamamento e da salvação que Deus me oferece? E que tal não ter vergonha de dizer que a oração me faz bem e ensinar algum amigo a rezar? E que tal convidar um amigo para se confessar? Vivamos a fé como Jesus nos pede e não segundo os nossos critérios pessoais…desta forma mudaremos o mundo! Recomeça hoje: não ganhas nada em desistir!

Vamos mudar o mundo? Ainda há esperança! Começa por ti…por onde vais começar?

[1] https://observador.pt/opiniao/imigracao-acolhimento-e-responsabilidade/

[2] https://queima-te.pt/

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