Valores religiosos devem contribuir para o bem da sociedade

Entrevista ao Padre Peter Stilwell, director do Departamento das Relações Ecuménicas, depois das mudanças estruturais, ocorridas na Cúria Diocesana de Lisboa, promovidas pelo Cardeal-Patriarca Quais são, neste momento, os desafios que a sociedade faz à Igreja na área do ecumenismo e do diálogo inter-religioso? A diocese de Lisboa é, talvez, a diocese mais tocada pelas questões do diálogo ecuménico e do diálogo inter-religioso uma vez que é aqui, na grande Lisboa, que se encontram em maior expansão as comunidades de outras comunidades religiosas. Este é um sector que é preciso acompanhar com atenção uma vez que podem surgir tensões entre comunidades e é importante que as comunidades compartilhem a responsabilidade de fazer a integração dos seus membros numa sociedade comum, onde os valores religiosos devem contribuir para o bem da sociedade em geral. Recorde-se que recentemente o Patriarca de Lisboa entregou uma capela à Igreja ortodoxa, ligada ao Patriarcado de Moscovo, e tem conseguido passos importantes com outros patriarcados. Que acções estão previstas para o próximo ano pastoral por parte do Departamento das Relações Ecuménicas? Dadas as limitações do departamento, e mesmo as minhas em relação à disponibilidade de tempo, procuro responder às circunstâncias e procuro estar presente e estabelecer laços com as pessoas. Temos a tradicional semana de oração pela unidade dos cristãos, onde fazemos encontros e celebrações. Creio que não será a melhor forma de avançar com o diálogo ecuménico uma vez que se tornou uma “rotina” entre as comunidades. É um momento válido mas que não nos faz avançar. De facto, existem outros pontos em que temos avançado muito mais. Desde logo a colaboração na tradução das Bíblias. Relembro o trabalho do padre Tolentino de Mendonça, que fixou o texto da tradução da Bíblia que é usada pelos protestantes e que é uma das primeiras traduções da Bíblia em português. Recentemente, foi aprovado entre a Igreja Católica e a Igreja Anglicana um documento sobre o lugar de Maria no Cristianismo. Creio que é um documento que merece, no nosso país de longa tradição mariana, uma reflexão profunda entre as Igrejas de forma a quebrar algumas resistências que existem neste domínio. Porque é que Bento XVI reactivou, recentemente, o Conselho Pontifício para o Dialogo Inter-religioso? O Papa nunca chegou a fechar este departamento. O que aconteceu foi que o arcebispo que estava neste departamento foi nomeado para núncio apostólico no Egipto. Com esta mudança pensou-se numa alteração de política. Pelos gestos de Bento XVI, podemos compreender que ele tem um forte empenho no sector do diálogo inter-religioso. Basta reparar na viagem à Turquia e os gestos que usou para com a comunidade islâmica. O que acontece agora é a nomeação de uma pessoa específica para este cargo, no caso um homem [Cardeal Tauran] com experiência de contacto com outras comunidades. Tendo em conta os recentes avanços entre as diferentes comunidades, está prevista alguma alteração, para o futuro, nas relações entre a Igreja Católica e as outras Igrejas? Em alguns casos, os recentes acordos foram conseguidos com a superação de grandes questiúnculas doutrinais. Neste momento, os acordos emperram, muitas vezes, em pequenas questiúnculas pessoais. Não podemos querer a ideia do ecumenismo em que todas as Igrejas estão reunidas debaixo de um bispo ou em dioceses. Creio que esta visão, a curto prazo, não é pensável. Penso que os acordos sobre algumas questões doutrinais serão difíceis nos próximos tempos uma vez que implicam questões históricas difíceis. Pensa que a Igreja tem respondido suficientemente às exigências ecuménicas de uma busca de unidade? De que forma? Creio que a Igreja tem assumido de forma muito dinâmica esse empenho na construção de uma unidade. Desde o Concílio Vaticano II isso é muito claro. O que se sonhava, no tempo do Concílio, era que conversando com os irmãos das outras Igrejas, e superadas algumas divergências doutrinais, todos tornariam a voltar à Igreja Católica. Facilmente foram superadas as dificuldades a nível doutrinal mas tem sido mais difícil avançar para qualquer forma de expressão concreta dessa unidade. Departamento da Catequese/Voz da Verdade

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Agência ECCLESIA

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