Valores foram os grandes vencedores da Cimeira

Pe. José Augusto Leitão analisa o encontro entre União Europeia e África, sublinhando «mudança de espírito nas relações» A afirmação de valores humanos, o diálogo e as parcerias que se querem iniciar entre os dois continentes foram os aspectos da Cimeira União Europeia/África que mais se destacaram. O encontro deste fim-de-semana, que juntou os dois continentes em Lisboa, foi um passo importante porque mostrou uma “mudança de espírito nas relações”, aponta o Pe. José Augusto Leitão, sacerdote Verbita e responsável português pela Rede Fé e Justiça África-Europa (AEFJN). “É cedo para avaliações da Cimeira, mas há condições para um maior diálogo e um espírito novo entre a Europa e África”, refere. O sacerdote afirma que temas que inicialmente não estavam na agenda, como os direitos humanos e o Darfur, os acordos de parceria económica, que “estavam à partida excluídos da agenda por serem temas difíceis de tratar”, quando na realidade seria impossível estes temas não serem abordados, foram de facto abordados. A acção da sociedade civil e de várias organizações não governamentais tiveram essa mais-valia, ao introduzir estes temas na comunicação social, ao manifestarem-se na sociedade, mas também levando estes assuntos para dentro da própria Cimeira. Agora “pequenos passos” serão a forma para atingir o objectivo das parcerias equilibradas, onde fique patente a “escuta e os encontros” e onde não haja assuntos tabu. O Pe. José Augusto Leitão reconhece que houve “liberdade de expressão de ambas as partes”, o que não implica uma “mudança radical”. Apesar de não haver unanimidade sobre os acordos de parcerias económica (APE) – Senegal, África do Sul e Nigéria resistiram a chegar a um acordo -, esta situação será ultrapassada “se houver vontade política para analisar com verdade e realismo estas questões”, aponta o responsável português pela AEFJN. A reacção senegalesa ou da África do Sul poderá levar a “uma mudança de perspectiva europeia”, agora que a Comissão Europeia assumiu a negociação dos acordos, cujo prazo, admitiu Durão Barroso, poderão estender-se até ao final do ano. O sacerdote deseja que “não haja retórica, mas um esforço para que África, com estes instrumentos, possa criar mecanismos de desenvolvimento”, sabendo, à partida, que há uma grande desigualdade. A África está em desvantagem. É um continente com grandes possibilidade minerais e florestais, mas sem possibilidade de transformação destas matérias primas. “A regra de origem impossibilita trocas comerciais, devido às exigências do mercado europeu”, adverte o responsável da AEFJN. “Os países com recursos naturais podem entrar nas negociações, mas os que não têm matérias primas ficam sem capacidade de negociação, comprometendo também o seu desenvolvimento”, prossegue. Para o Pe. José Augusto Leitão, a Europa perdeu muito e “apesar de sermos vizinhos e partilharmos uma história comum, ficámos longe uns dos outros”. Agora, pressionada pelo avanço da China e, no futuro de outros países emergentes, a Europa acabou por “assumir este risco”, mas houve um “hiato grande” que impossibilitou, inclusivamente, o avanço das negociações dos Acordos de Parceria Económica, pois “não havia um diálogo a alto nível para controlar e fazer avançar estes acordos”. Dentro deste contexto, o religioso Verbita aponta que o importante é “não voltar a quadros anteriores, mas haver um novo espírito nas relações entre Europa e África, que não seja apenas teórico mas que se concretize em factos concretos”. Portugal assumiu o desafio, e “não foi apenas de levantar esta questão na Europa, porque muitos países europeus, apesar do seu passado não têm sensibilidade face a África”. A parceria foi agora centrada entre continentes que “procuram viver no mesmo espírito”, não entre “colonizadores e colonizados, ou doadores e receptores”. O Pe. José Augusto Leitão aponta os valores como os vencedores deste fim de semana. O diálogo, a defesa dos valores dos direitos humanos, da paz e da democracia, estes foram os aspectos fundamentais, “constituindo uma vitória não de países mas de valores”.

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Agência ECCLESIA

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