Carlos Borges, Agência ECCLESIA
Uma paróquia missionária, num grande bairro periférico, é a “minha”. É a Paróquia da Baixa da Banheira que tem no seu território o Vale da Amoreira, no concelho da Moita. Uma localidade com várias zonas, nem todas problemáticas e uma mais do que as outras. Há uns anos, tornou-se num grande bairro ao ser contemplado na Iniciativa Bairros Críticos (2005). Deste período destaca-se a construção do interessante Centro de Experimentação Artística. Vale a pena conhecer.
São tantas as pessoas que se levantam de noite e voltam para casa já se o sol se pós, que têm de apanhar vários transportes, muitos até têm de esconder que são do V.A 2835, terra de campeão da NBA.
O bairro é multicultural, multiétnico e multirreligioso, há vários lugares de culto. A Igreja Católica tem uma capela e neste mês de outubro regressou ao horário normal das três celebrações, uma ao sábado e duas ao domingo. Já não há necessidade das pessoas levaram bancos para sentarem-se à porta da Eucaristia dominical, no verão.
Fui à Missa das 11h00, no Domingo XXVIII do Tempo Comum (13 de outubro). Já não entrava na capela desde as festas em junho. No início éramos 13 adultos e 14 crianças e adolescentes com idades de catequese. Deu para contar. Ao longo da celebração, a comunidade foi crescendo, ainda que em números modestos, sem chegar aos 40. O Vale da Amoreira que celebra ali está envelhecido, as muitas crianças, adolescentes e jovens que existem nesta antiga freguesia não conhecem aquela morada. O Sínodo dos Bispos ainda estava decorrer, a sinodalidade não vai parar. Aqui, ao longe, a sobrevivência era o presente e o futuro da comunidade.
De louvar as pessoas e os rostos que não desistem desta construção em contraplacado, muitas desde a minha infância, ainda as paredes e a morada eram outras. Muitas ainda têm a esperança de ver ali ao lado uma igreja, e que os seus sonhos, Deus também os queira, para que a obra possa nascer. Há dias estive em Palaçoulo, se ali conseguiu nascer um mosteiro e outras infraestruturas, o projeto aqui é muito, mas muito mais modesto.
Lembro-me de um antigo pároco, agora sacerdote diocesano no norte do país, que falava da importância da Igreja, edifício, institucional e comunidade, num bairro como este, no outro prato da balança estava a prisão, citando um bispo francês, acho eu.
É verdade, não tivemos tumultos, desses da semana passada nos “Bairros Críticos”. Pelo menos, desta vez, não aparecemos na TV ou nos jornais. Andei por algumas zonas do bairro e não vi nada. Será que afinal não precisamos da igreja?!
Neste último domingo já éramos mais na Missa, não contei, mas o número aumentou.
“Ide e convidai a todos para o banquete”, continua a ser o incentivo e a mobilização no Vale da Amoreira, hoje e sempre. Neste final do mês outubro missionário e todos os dias.
Outubro está a ser um mês intenso para quem chega ao último dia e tem de publicar um artigo de opinião. Há muita variedade temática, ou não, porque já foi tudo falado e escrito.
Um mês intenso na vida da Igreja Católica, em Portugal (a pastoral juvenil, a pastoral social e caritativa, a educação cristã, inícios de ano pastoral) e no mundo (o Sínodo dos Bispos, documentos, as mulheres). Intenso na vida da sociedade portuguesa e no resto do mundo, onde as guerras continuam em vários países e regiões, das mais mediáticas às outras que são notas de rodapé, breves, ou alertas de fundações e ONGDs, as eleições, as que já aconteceram e outras que estão a decorrer, também em campanha eleitoral. A ausência de direitos e liberdades, as vidas ceifadas e outras deixadas incapacitadas, a violência revoltada mas gratuita, que nada resolve, com prejuízos para as vítimas que se “atravessam” no caminho, e as outras que sofrem os efeitos colaterais desses atos. As fugas de informação… Sem esquecer a falta de fair play no desporto, mais concretamente no futebol que mobiliza muitos milhões, de pessoas e dinheiro.
E já só faltam dois meses para terminar mais um ano que passou a correr.