«Vai ser um 31»: Jubileu do Mundo das Comunicações, um minuto por todos os camaradas

Carlos Borges, Agência ECCLESIA

“Desejo recordar na oração todos aqueles que sacrificaram a vida neste último ano, um dos mais letais para os jornalistas. Oremos em silêncio pelos vossos colegas que assinaram o seu serviço com o próprio sangue!
Quero recordar convosco também todos aqueles que estão presos simplesmente por terem sido fiéis à profissão de jornalista, fotógrafo, operador de vídeo, por terem desejado ir ver com os próprios olhos e por terem procurado narrar o que viram” – Papa Francisco

“Uma imagem vale mais que mil palavras”, diz que sabedoria popular. Na universidade, numa disciplina do 4.º ano, fizemos a reflexão ao contrário. Os tempos mudam, o ditado mantém-se. Se aliarmos a imagem, e o momento simbólico, à palavra numa pessoa, e essa pessoa for Francisco, o Papa, temos um momento comunicacional que corre o mundo. A “segunda parte” do Ano Santo 2025, a dos eventos jubilares setoriais, começou com o “Mundo das Comunicações” que, certamente, tinha muito mais visibilidade se esta conjugação tivesse acontecido. É só a minha opinião.

A citação ali em cima faz parte da palavra escrita, mas não da palavra falada, faz parte do discurso publicado online para a posteridade e como memória do Jubileu do Mundo das Comunicações, mas não está na voz do Papa Francisco. Este foi o primeiro grande evento jubilar do Ano Santo 2025.

O Papa não usou o “discurso de nove páginas” que tinha para os jornalistas e comunicadores, milhares de pessoas de 138 países, e partilhou “apenas uma palavra sobre comunicação”, sobre o seu trabalho que “edifica: constrói a sociedade, constrói a Igreja, leva todos a progredir, contanto que seja verdadeiro”. E, claro, convidou a ir ao encontro: “Comunicar significa sair um pouco de mim mesmo para oferecer do que é meu ao outro”.

Foto: ECCLESIA/CB

Só é possível imaginar qual seria o alcance, a força, e visibilidade mediática mundial se as palavras escritas do Papa tivessem sido pronunciadas por Francisco. A expetativa era muita, como em tudo com este Papa. E Francisco dedicou muito tempo a cumprimentar, umas filas mais demoradamente, outras “passou as tropas em revista”, muitos acenos, bênçãos, olhares e sorrisos.

Na vida, normalmente, vejo o copo meio vazio, por culpa própria, claro, ali, se tivéssemos o tal momento “em silêncio” pelos camaradas, o copo do Jubileu do Mundo das Comunicações transbordava de bom. Acho que bastava isso do ‘Pop(e) Francis’ que tanto no habituou aos gestos e ao simbólico. Não precisava de ler mais nada.

Dos gestos do Papa, em 11 anos de pontificado, lembro o pedido de oração após a sua eleição, a viagem a Lampedusa; o abraço e beijo ao doente com neurofibromatose, após uma audiência pública; e Francisco sozinho, a carregar o mundo, na pandemia das nossas vidas; ou Portas Santas especiais, no Jubileu da Misericórdia em Bangui, na República Centro-Africana, e neste Ano Santo 2025, na prisão italiana de Rebibbia.

A força das palavras de Francisco e aquele momento de oração iam acontecer após a voz de alerta da filipina Maria Ressa. A jornalista, prémio Nobel da Paz 2021 e diretora da plataforma ‘Rappler’, teve de pedir autorização para sair do seu país para estar connosco no Vaticano. E dos incentivos do escritor irlandês Colum McCann, cofundador da rede ‘Narrative 4’, para a importância de contar histórias. Tão em sintonia com o hashtag (marcador) #hopetelling lançado, na véspera, pelo Vaticano. Eram “rotativas” de esperança a grande velocidade.

Em 2024, segundo estimativa da Federação Internacional de Jornalistas (IFJ), foram assassinados 104 jornalistas, e estavam presos 520. A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF), em comunicado já deste janeiro, são 550 os jornalistas privados de liberdade.

O jubileu, como é óbvio, não se perdeu por aquele “salto” papal no discurso, muito menos o programa dos participantes portugueses que peregrinaram com o Secretariado Nacional das Comunicações Sociais da CEP. Que oportunidade foi estar no Dicastério para a Cultura e Educação. Da minha parte só tenho a agradecer muito, mesmo muito, à Conferência Episcopal Portuguesa, ao Secretariado Nacional das Comunicações Sociais e, claro, à Agência ECCLESIA, por esta oportunidade jubilar. Fui a Roma (#aminhaprimeiravez), vi o Papa e passei as Portas Santas.

Se leu tudo, ou saltou diretamente para aqui, faça agora essa oração em silêncio…. Obrigado e bom jubileu.

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