«Vai ser um 31»: Força camaradas

Carlos Borges, Agência Ecclesia

 

«Todos começamos como desconhecidos». Estamos no último dia do primeiro mês de 2024 e parece tudo muito igual, um papel químico, ao ano passado: Guerras, inflação, manifestações, campanha eleitoral fora de tempo, casos de corrupção, sede de poder e ataques. O bem e o belo, a solidariedade e a bondade, têm cada vez menos voz e vez.

Mas vamos ao título, gosto da palavra “camarada”, sempre gostei, diria até que tenho dela, da palavra camarada, um imaginário bastante antigo. Talvez por ser filho de militar. Temos outras palavras que, hoje, são mais “suaves”, mais fáceis de expressar, de verbalizar, como companheiro, colega. Mas, camarada, camarada tem qualquer coisa que vai para além disso, como que enche os pulmões. Não, não sou sindicalizado, não, nunca pertenci a nenhum partido político. Nada contra, não aconteceu.

A minha pena é que, por cá, “camarada” vá perdendo significado e força, caindo em desuso, para as outras palavras. Talvez por causa dessas conotações políticas, do politicamente correto. As “gerações mais novas”, algumas pessoas, pelo menos, não entendem o seu uso no jornalismo.

De 18 a 21 de janeiro realizou-se o Congresso de Jornalistas. Foi o meu primeiro congresso, pode também ter sido o último, não se sabe a data do próximo, nem eu sei o meu futuro. Não participei no congresso anterior, em 2017, mas nesta 5.ª edição, certamente como nas outras, refletiu-se sobre a profissão – o passado, especialmente no contexto dos 50 anos do 25 de abril de 1974, e como é bom ainda ter aquelas memórias todas entre nós; o presente e o futuro: Os desafios, problemas, bom jornalismo e mau, as audiências e os “cliques”, a saúde dos camaradas, formas de financiamento, novos projetos, o acesso há profissão, a Inteligência Artificial, e muito mais.

Os camaradas jornalistas no congresso uniram-se e aprovaram uma greve geral e uma manifestação nacional, num futuro próximo. Porque, “o atual estado de emergência do jornalismo nacional convoca todos”: “Convoca todos a empenharem-se na busca de soluções e na união em torno dos princípios e valores que regem a profissão”.

Fui para o curso de Comunicação Social para tirar jornalismo. Nunca tive muita esperança de exercer a profissão. Desde os primeiros dias de curso ouvi dizer que a profissão estava em crise, que os jornalistas eram cada vez menos, saiam muitos estudantes da faculdade mas poucos ficavam na área, a profissão é precária, os salários são baixos, etc, etc, etc.

Se a crise no Global Media Group (GMG), proprietária do Jornal de Notícias – JN, o Diário de Notícias – DN, a rádio TSF, o desportivo O Jogo, e muitos mais, é o caso mais conhecido e badalado, que colocou os jornalistas a serem notícia, e espero que tenha acordado a sociedade, existem muitos outros órgãos de comunicação em crise, com menos visibilidade, menos destaque. Também existem mais notícias de camaradas agredidos, insultados, e impedidos de trabalhar. Força camaradas, avante!!

É com sentimento de perda que vejo mais um jornal centenário, com base e “pronúncia do norte” (regionalismos à parte), em risco de se calar. Vivi uns anos no Porto, nos finais dos anos 90 e no final da primeira década deste milénio… Tive a oportunidade de ser leitor do ‘Comércio do Porto’, depois do ‘Primeiro de Janeiro’, onde trabalhei em publirreportagem e ficaram salários, e, nestes períodos, sempre do JN, que é ainda companhia nas férias de verão.

Voltando à fotografia, «todos começamos como desconhecidos»: Não sei o que está a achar deste primeiro mês de 2024. Será mesmo um ano novo, desconhecido?

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Agência ECCLESIA

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