Carlos Borges, Agência Ecclesia

As pedras e as pessoas da “minha” aldeia confundem-se no tempo. São elas que sustentam e mantêm viva essa mesma aldeia. Das mais novas, às mais antigas. Umas e outras apoiam-me, amparam-se e constroem-se ao longo dos séculos. Tenho duas aldeias, e tenho o privilégio de poder ser uma testemunha, pouco presente, ao longo dos anos, desses alicerces que resistem ao passar do tempo e às intempéries da vida, das alegrias e das tristezas. Com mais ou menos pessoas, com mais ou menos movimento, com mais ou com menos presenças e participações, é num diálogo intergeracional que se faz o dia a dia.
São pedras novas e pedras velhas, umas recentes, e até mais moldadas, que se vão encaixando noutras mais antigas para continuar a dar sustento aqueles muros que, deixam entrar quem se abeira, mas protegem campos e vinhas.
No próximo dia 12 de outubro somos novamente chamados às urnas, vamos a votos nas eleições autárquicas e escolher os órgãos representativos locais – Câmaras Municipais, Assembleias Municipais, Juntas de Freguesia e Assembleias de Freguesias. Coloque na agenda. E numa das minhas aldeias – Sanhoane (Santa Marta de Penaguião) – que era União de Freguesia até há pouco tempo – União de Freguesias de Lobrigos (São Miguel e São João Batista) e Sanhoane, em Santa Marta de Penaguião – já tem cartazes com candidatos à freguesia. Alguns são jovens e adultos, que podem vir a dar lugar aos mais velhos, que governam há mais tempo, e trazer sangue novo.
Como o muro da fotografia, jovens e menos jovens e adultos há mais tempo, todos juntos, conectados, ligados, tentam construir alicerces seguros.
E chega ao fim agosto, mês de paragem e passagem para muitas pessoas num calendário preenchido pelo trabalho e pelos estudos. Muitas pessoas já passaram pelas férias, retemperadoras ou talvez não. O verão de 2025 trouxe uma nova crise de incêndios florestais em Portugal. Deixava ansioso até quem assistia pela televisão os fogos intermináveis a qualquer hora. Mais uma vez a comunicação social invadiu muitos territórios que, fora estas situações, são desconhecidos/esquecidos. Jornalistas por vilas, aldeias e lugares perdidos em serras e vales, a serem apanhados, também eles, pelas voltas do fogo e do fumo, alguns também a pedirem autorização, em direto, para terminarem com os diretos, e pelas descargas d’água.
As cores habituais da natureza de verão, em anos sem incêndios, voltaram este ano ao negro, e a uma paisagem devastada, que não convida ao passeio, nem ao turismo, mas ao lamento, sem baixar o braço. Na minha outra aldeia, a Ermida do Marão, já escrevi sobre ela, acho até que me repeti, tivemos sorte, até agora. A Serra do Marão tem sido poupada, assim continue.
(Os artigos de opinião publicados na secção ‘Opinião’ e ‘Rubricas’ do portal da Agência Ecclesia são da responsabilidade de quem os assina e vinculam apenas os seus autores.)